Título: Negociar com Mercosul não é prioridade, diz UE
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/03/2006, Economia & Negócios, p. B5

Para Michael Mann, porta-voz da Comissão Agrícola da União Européia, o foco atual são os entendimentos multilaterais no circuito da OMC

A União Européia (UE) alerta: a prioridade nesse momento não são as negociações bilaterais com o Mercosul, mas o processo da Organização Mundial do Comércio (OMC) que entra em um momento crítico.

Com a paralisação da negociação para a criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), o Brasil retoma amanhã o processo para tentar reconsiderar o projeto de um acordo de livre comércio entre os europeus e o Mercosul. Mas Bruxelas também adverte: os europeus não farão nesse momento uma nova oferta de abertura de seu mercado agrícola.

"Consideramos as negociações com o Mercosul de extrema importância. Mas, nas próximas semanas, estaremos entrando em uma fase de intensas negociações na OMC. Portanto, precisamos ver primeiro o que ocorre no processo multilateral para depois avaliar como será a negociação entre os dois blocos", afirmou Michael Mann, porta-voz da Comissão Agrícola da UE.

De fato, os dois blocos se reúnem em Bruxelas com uma missão que, para muitos, pode parecer irrealista: definir como os europeus abrirão seu mercado agrícola e como o Mercosul liberalizará seus setores industriais e de serviços. Na OMC, esses são exatamente os temas mais delicados, que impedem um avanço no processo e ainda causam acusações mútuas entre o chanceler Celso Amorim e o comissário de Comércio da UE, Peter Mandelson.

Para tentar superar essa falta de entendimento, os representantes do Mercosul e da UE esperam trabalhar nos próximos meses em uma fórmula que permita uma redução das tarifas tanto no setor agrícola como na área industrial.

Pressionado, o Brasil também ensaia a apresentação de projetos para facilitar o acesso dos europeus ao seu setor de serviços, principalmente o de seguros. O problema é que, para o Mercosul, não há por enquanto um sinal claro dos europeus de que podem incrementar seu acesso para os produtos agrícolas exportados principalmente pelo Brasil e Argentina.

Na prática, os dois grupos ficaram mais de um ano sem manter reuniões negociadoras diante do impasse. Em novembro do ano passado, ministros do Mercosul e da UE se reuniram e conseguiram estabelecer como retomariam o processo. A crise era tão grande que o Brasil comemorou vitória diante do simples acordo sobre uma agenda de negociações.

ESTRATÉGIA

Agora, porém, o trabalho será bem mais complexo que o estabelecimento de um calendário. Os quatro países do Mercosul se reuniram nas últimas semanas para tentar formular uma nova estratégia de negociação e estudar eventuais propostas para destravar o processo. Originalmente, os europeus chegaram a apontar que gostariam de ver um acordo fechado até maio, quando ocorre a reunião da UE com os chefe de Estado da América Latina. Mas Bruxelas hoje nega que isso seja possível. "Estamos longe de um acordo", disse uma funcionária da UE.