Título: Cautela deve dominar investidor
Autor: Tom Morooka
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/03/2006, Economia & Negócios, p. B4

Posições defensivas tendem a marcar o comportamento nos negócios por causa de denúncias contra Palocci

O mercado financeiro deve iniciar a semana reforçando o sentimento de cautela com os possíveis desdobramentos das denúncias contra o ministro Antonio Palocci. A expectativa geral é que o otimismo seja mantido nos mercados, que, de todo modo, tendem a acompanhar com certa preocupação a crise que envolve o ministro, avalia Newton Rosa, economista-chefe da SulAmérica Investimentos. "Ninguém aposta em mudança na política econômica, mas o investidor tende a manter-se na defensiva, sem disposição para grandes tacadas."

A evolução da crise política deve dividir a atenção do mercado com os indicadores econômicos que serão divulgados aqui e nos Estados Unidos nesta semana. Segundo Rosa, no cenário externo, a preocupação com o comportamento dos juros nos títulos de dez anos do Tesouro americano fortalece a expectativa, pelo lado da atividade, com os indicadores antecedentes de fevereiro, que serão conhecidos hoje, e, pelo lado da inflação, com o índice de preços ao produtor (PPI) de fevereiro, que será divulgado amanhã.

Os indicadores antecedentes de atividade, apesar da previsão de recuo de 0,3% em fevereiro, devem continuar apontando para uma tendência de desempenho vigoroso da economia americana nos próximos meses, avalia Rosa. Para ele, o setor imobiliário tem contrabalançado esse movimento, o que faz aumentar o interesse pela divulgação de dados de vendas de imóveis residenciais usados de fevereiro, na quinta-feira, e de vendas de imóveis residenciais novos, na sexta.

É improvável que esses dados levem a uma reavaliação de expectativas sobre o rumo dos juros de curto prazo americanos, que, pelas estimativas do mercado, teriam mais duas elevações de 0,25 ponto porcentual, o que puxaria a taxa de 4,5% no momento para 5% ao ano. "O principal temor é que eles venham a pressionar o juros mais longos, dos títulos de dez anos, como ocorreu recentemente", diz Rosa. São esses juros que influenciam movimentos de investidores nos mercados emergentes, com pressões sobre o dólar, ações e juros.

Dentre os indicadores de inflação domésticos, o destaque é o IPCA-15 de março, que será conhecido na sexta-feira. A estimativa é que, passada a influência dos custos com educação, a inflação recue de 0,52% em fevereiro para 0,38%. O diretor da SulAmérica prevê variação nula da segunda prévia de inflação de março pelo IGP-M, que será divulgado hoje, e alta de 0,16%, na primeira quadrissemana, para 0,28%, na segunda, do IPC da Fipe, que sai amanhã.