Título: Argentinos lembram 30 anos de golpe
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/03/2006, Internacional, p. A14

Manifestantes protestaram diante do prédio do ex-presidente Videla

A série de manifestações, eventos e cerimônias públicas que nesta semana lembrará os 30 anos do golpe militar que deu início à ditadura (1976-83) começou neste fim de semana com um "escrache" (protesto no qual os manifestantes vão até a residência de alguém para repudiá-lo e divulgar seus crimes aos vizinhos) contra o ex-ditador Jorge Rafael Videla - primeiro presidente do regime militar, instaurado em 24 de março de 1976.

Mais de 6 mil pessoas se reuniram diante do edifício na Avenida Cabildo, onde o ex-ditador cumpre prisão domiciliar por graves violações aos direitos humanos durante a ditadura, e jogaram bolsas de tinta vermelha contra as paredes e janelas do apartamento, no quinto andar.

"Genocida" e "Assassino", gritaram alguns manifestantes, que levaram uma grua até o lugar. A máquina levantou até o quinto andar um jovem, integrante do Grupo Hijos (associação de filhos de desaparecidos durante a ditadura), que leu um discurso contra Videla, chamando-o de "ratazana imunda".

Videla, o homem mais poderoso da Argentina há 30 anos, hoje sente, além do desprezo da sociedade, os efeitos da velhice. Ele tem insuficiência coronária, arritmia crônica, hipotireoidismo, além de catarata, que o está deixando cego. Mas caminha bem e possui total lucidez.

Nos últimos anos, denúncias indicaram que o ex-ditador realiza rápidas saídas de seu apartamento para visitar padres que o confessam e lhe dão a comunhão.

Já seu colega de Junta Militar, o ex-almirante Emilio Massera, famoso por sua vaidade, agora passa seus dias em uma cama. Enfermeiras precisam trocar suas fraldas três vezes por dia. Há três anos e meio Massera teve um derrame cerebral que o deixou praticamente em estado vegetativo.