Título: Parecer do PT nega mensalão e poupa estrelas petistas como Dirceu e Gushiken
Autor: Eugênia Lopes e Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/04/2006, Nacional, p. A6

O relatório paralelo do PT apresentado ontem à CPI dos Correios descaracteriza o texto do deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) e poupa de envolvimento no escândalo do mensalão estrelas petistas, como os ex-ministros José Dirceu e Luiz Gushiken e o ex-presidente do partido José Genoino. Com cerca de mil páginas, a proposta do PT afirma que o mensalão não existiu, que o esquema do publicitário Marcos Valério começou em 1998, no governo do tucano Eduardo Azeredo em Minas, e que não há provas de que o Banco do Brasil, por meio da Visanet, foi fonte dos recursos que abasteceram o valerioduto.

O texto paralelo sugere ainda o indiciamento do banqueiro Daniel Dantas.

"O relatório não apresenta provas que indiquem a existência do mensalão. Utilizou-se o relator de ilações, estranhezas, suspeitas para chegar a conclusões sem base nos fatos. Não houve pagamentos para obter aprovação de projetos de interesse do governo, mas o repasse ilegal para partidos", diz o texto petista. "Não se está aqui defendendo a legalidade do caixa 2. Trata-se de prática que deve ser condenada, e é por tal razão que defendemos a maior transparência das contas de campanha e limitação dos gastos. Mas afirmar que o caixa 2 seria o fantasioso mensalão, sem quaisquer provas para tanto, compromete o esforço da CPMI de aperfeiçoamento das estruturas políticas e da vida pública e transforma a CPMI em manobra eleitoreira e demagógica", afirma o relatório do PT.

Para conquistar votos de parlamentares aliados contra a proposta de Serraglio, o PT retirou a Prece, fundo de pensão da Companhia de Abastecimento de Água e Esgoto do Rio de Janeiro (Cedae), de seu relatório. Assim, o governo garantiu o voto do deputado Carlos Willian (PTC-MG), ligado ao ex-governador Anthony Garotinho, a favor de seu texto. Os petistas também excluíram da proposta os pedidos de indiciamento de peemedebistas envolvidos em irregularidades nos Correios.

O texto aponta ainda que Valério seduziu o PT. "O empresário angariava recursos no setor público e privado e os repassava, por meio de suas agências de publicidade, a indicados por Delúbio Soares (ex-tesoureiro do PT). Havia o publicitário seduzindo o PT com um mecanismo para arrecadar fundos."

Entre os pedidos de indiciamento, além do banqueiro Daniel Dantas, figuram seus sócios, a ex-presidente da Brasil Telecom Carla Cicco e o jornalista Leonardo Attuch.

Apesar de não ter mexido no texto de Serraglio, que poupa os 18 parlamentares que receberam recursos de Valério, o PT incluiu na lista o deputado Custódio Mattos (PSDB-MG), que teria recebido dinheiro do esquema do empresário.