Título: A hora é de determinação, não de recuo
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Fonte: O Estado de São Paulo, 20/03/2006, Internacional, p. A12

Al guns descrevem a situação no Iraque como um problema que se agrava, observando que "o tempo não está do nosso lado" e "o moral está baixo". Outros descrevem uma reviravolta "muito perigosa" e se dizem "extremamente preocupados". Quem expressa tais preocupações? Na verdade, estas são exatamente as palavras dos terroristas - Abu Musab al-Zarqawi e seus associados -, que descrevem sua própria situação ao discutir sobre o Iraque e sem dúvida têm assistido amedrontados ao progresso do país nos últimos três anos. Os terroristas parecem reconhecer que estão perdendo no Iraque. Creio que a História comprovará isso. Felizmente, a História não é feita de manchetes diárias, blogs na internet ou o último ataque sensacional. A História é um quadro maior e precisa de algum tempo e perspectiva para ser avaliada com precisão.

Considerem que, em três anos, o Iraque passou da submissão a uma ditadura brutal à eleição de um governo provisório, à ratificação de uma nova Constituição escrita por iraquianos e à eleição de um governo permanente em dezembro passado. Em cada uma dessas eleições, o número de eleitores participantes aumentou significativamente - de 8,5 milhões na eleição de janeiro de 2005 para quase 12 milhões na eleição de dezembro -, apesar das ameaças e ataques dos terroristas.

Um dos desenvolvimentos mais importantes do último ano é a crescente participação da comunidade sunita no processo político. Na volátil província de Anbar, onde os sunitas são maioria esmagadora, a participação dos eleitores aumentou de 2% em janeiro para 86% em dezembro. Xeques e líderes religiosos sunitas antes simpáticos à insurgência hoje se reúnem com representantes da coalizão, encorajando os iraquianos a juntar-se às forças de segurança e promover aquilo que extremistas violentos como Zarqawi e seus seguidores da Al-Qaeda reconhecem como uma "guerra em grande escala" contra eles. Os terroristas estão decididos a alimentar as tensões sectárias e tentam desencadear uma guerra civil. Apesar dos muitos atos de violência e provocação, a vasta maioria dos iraquianos demonstra querer que seu país continue unido e livre do conflito étnico.

Foi o que vimos no mês passado, após o ataque ao santuário xiita em Samara, quando líderes dos vários partidos e grupos religiosos do Iraque condenaram a violência e pediram calma. Outra transformação significativa ocorreu no tamanho, capacidade e responsabilidade das forças de segurança iraquianas. E isto é de vital importância, pois são os iraquianos, afinal, que devem construir e proteger sua própria nação.

Hoje, cerca de 100 batalhões do Exército iraquiano, cada um com várias centenas de soldados, estão na luta, e 49 controlam seu próprio espaço de batalha. Cerca de 75% de todas as operações militares no país incluem forças de segurança iraquianas e quase metade destas é planejada, conduzida e liderada com independência por iraquianos. As tropas de segurança iraquianas têm mais capacidade que as da coalizão de detectar o sotaque de um terrorista estrangeiro, identificar suspeitos locais e usar a força sem aumentar uma sensação de ocupação. Foram estas forças iraquianas - e não as tropas dos EUA ou da coalizão - que impuseram toques de recolher e contiveram a violência depois do ataque à Mesquita Dourada de Samara. É verdade que vários tipos de violência continuam a desacelerar o progresso do Iraque. Mas a coalizão faz todo o possível para ver o sucesso deste esforço e promove ajustes quando necessário.

A razão de um Iraque livre e democrático é tão convincente hoje quanto há três anos. Um Iraque livre e estável não atacará seus vizinhos, não conspirará com terroristas, não pagará recompensas às famílias de homens-bomba e não buscará matar americanos. Embora existam aqueles que nunca se convencerão de que a causa do Iraque compensa os custos, qualquer um que observar com realismo o mundo de hoje - a ameaça terrorista que enfrentamos - só poderá chegar a uma conclusão: a hora é de determinação, não de recuo. Se recuarmos agora, todas as razões levam a crer que os saddamistas e terroristas preencherão o vazio - e o mundo livre poderá carecer da determinação de enfrentá-los novamente. Dar as costas ao Iraque pós-guerra hoje seria o equivalente moderno da devolução da Alemanha pós-guerra aos nazistas. Seria uma grande desgraça, como se pedíssemos que as nações libertadas da Europa Oriental voltassem ao domínio soviético por ser muito difícil construir países livres, ou por não termos paciência para trabalhar com elas nisso.

O que precisamos entender é que a vasta maioria dos iraquianos quer o sucesso da coalizão. Eles querem um futuro melhor para si e suas famílias. Não querem que os extremistas vençam. E arriscam suas vidas a cada dia para defender seu país. Vale a pena lembrar disso no aniversário da Operação Liberdade Iraquiana.