Título: 'Muitos usam a tutela para se proteger de crimes que praticam'
Autor: Nilton Salina
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/03/2006, Nacional, p. A11

Em 1991, Alfredo Bernardo Pereira da Silva, ou Alfredo Uapixana, foi à Justiça pedir sua emancipação da tutela do Estado, garantida pelo Estatuto do Índio. Quinze anos depois, segue como o primeiro e único índio emancipado do País, segundo os registros da Funai. Por que seu exemplo não foi seguido? "Existem muitos índios que procuram se esconder na tutela até como jeito de se proteger de crimes que praticam. Tem havido muitos crimes nas aldeias. E esses índios mal-intencionados acham que a Justiça não pode alcançá-los por causa da tutela."

Alfredo é fundador e coordenador do Programa de Desenvolvimento Sustentável da Nova Esperança, aldeia Uapixana a 208 km de Boa Vista (RR).

"Queria me sentir livre. Sou um cidadão normal, mas também sou reconhecido como índio", diz ele, 38 anos, ativista do movimento indígena há 21. A tutela, avalia, torna as comunidades muito dependentes da Funai. "Alguns povos mais isolados realmente precisam de auxílio, mas outros não. Me incomodava ver os índios recorrerem à Funai até para resolver problemas conjugais." Alberto teve de constituir advogado para garantir sua emancipação, provar que falava português, que podia se sustentar e interagir com a cultura "do branco".