Título: Alckmin diz ter uma avenida para crescer
Autor: Gabriel Manzano Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/03/2006, Nacional, p. A6

Ao inaugurar sua mais importante obra, governador festeja pesquisa

Na inauguração da mais importante obra de seu governo, os 25 quilômetros de um novo Rio Tietê, mais largo e mais fundo, para evitar enchentes, o governador Geraldo Alckmin viveu ontem, a cada minuto, um típico dia de campanha presidencial. Inaugurou placa, prestou homenagens a esportistas e deu entrevistas, entrecortadas por tchauzinhos a todo mundo enquanto o barco levava os convidados, na manhã quente e ensolarada, entre a Ponte Cruzeiro do Sul e o Cebolão.

No discurso de entrega da obra, Alckmin também incensou os convidados do PFL presentes, como o senador Romeu Tuma e o presidente da Assembléia, Rodrigo Garcia, e evocou figuras antigos campeões de voto do PSDB e do governo paulista, como Franco Montoro e Mário Covas. Por fim, não escondeu que está "muito contente" com sua recuperação na pesquisa do Instituto Datafolha, em relação aos índices de fevereiro, dizendo que 'tem aí uma avenida para crescer". Isso tudo antes de ir conversar sobre alianças com o presidente do PFL, Jorge Bornhausen, no Palácio dos Bandeirantes.

Sobre a queda da diferença entre ele e Lula na pesquisa Datafolha (que encurtou de 26 pontos para 19 no primeiro turno e de 18 para 12 no segundo), afirmou: "Isso é piso. Um piso altíssimo. Eu imaginava 8% ou 9% e tenho 23%, pois sou menos conhecido fora de São Paulo."

Seu vocabulário é eleitoral: embora vivendo os instantes finais no governo, os verbos que mais usa são "prosseguir" e "perseverar". Seus elogios ao prefeito José Serra são constantes e efusivos. "Tê-lo como candidato a governador seria uma ótima solução, eu diria que é o sonho do partido." Não perde a chance de bater duro no PT. Sobre a nova crise envolvendo o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, ele não só diz que "precisa investigar", como acrescenta: "O que parece estranho é que o governo e o PT têm muito a esconder. Por que tentam impedir, com ações judiciais, a busca da verdade?"

Seus próximos passos já estão definidos. "Até dia 31 vou me dedicar só a tarefas de governo. A partir de abril, aí sim vou trabalhar pra valer, vou percorrer o País." O que ele chama de "tarefas de governo" é uma penca de inaugurações nestes dez dias - a começar pela de hoje, às 11 horas: o Museu da Língua Portuguesa, na Luz. "Campanha, mesmo, só a partir da convenção, a partir de julho", avisa.

E, logicamente, a tarefa de montar um plano de governo para a campanha. A questão central "é emprego, emprego, crescimento, renda, qualificação profissional". O Brasil, "durante quase 80 anos, foi o campeão do crescimento do PIB no mundo e hoje está no fim da fila". É preciso, repete, "melhorar a qualidade do gasto público". "Esta obra (a nova calha do Tietê) não existiria se não fosse o ajuste fiscal do Mário Covas e o nosso."

ALIANÇAS

Depois da inauguração, Alckmin esteve por mais de uma hora e meia de conversa, no Bandeirantes, com o presidente nacional do PFL, senador Jorge Bornhausen e disse que só em abril o partido definirá se vai apoiar o tucano ou lançar seu próprio candidato à Presidência. Mas observou que "não há nenhum obstáculo, sob o ponto de vista político" para essa coligação, pois os dois partidos "tiveram coerência de combater esse governo do PT".

A posição do PFL, segundo Bornhausen, dependerá da decisão do prefeito do Rio, César Maia, e de consultas com governadores e parlamentares pefelistas. Maia não criou nenhuma barreira a Alckmin mas pediu pelo menos uma semana para "pensar estrategicamente" sobre a forma mais segura de derrotar o governo em outubro.