Título: Confusão na prévia do PMDB
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/03/2006, Nacional, p. A6

Partido havia cancelado anúncio do vencedor por confusão na apuração

BRASÍLIA

À 1h de ontem, o PMDB anunciou o ex-governador do Rio Anthony Garotinho o vencedor das prévias do partido para definir o candidato à Presidência. Pouco antes, a direção nacional da legenda havia cancelado o anúncio do vitorioso porque a apuração, feita com base na regra de proporcionalidade criada pelo partido estaria errada, segundo o criador da norma, deputado Eliseu Padilha (RS). Garotinho teria vencido pela regra da proporcionalidade, mas o governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, teve mais votos e contestou a vitória do adversário. Às 21h, com 98% dos votos apurados, Garotinho vencia com 49,4% dos votos válidos, contra 38,2% de Rigotto.

Mas em número de votos, Rigotto venceu o rival por uma diferença de 2.664. Foram 7.574 votos para o governador gaúcho e 4.910 para Garotinho. Entrou em ação, no entanto, uma média ponderada dos votos que deu mais peso para alguns Estados. Antes da consulta, o partido estabeleceu que o valor do voto seria proporcional ao número de votos que o Estado deu ao partido na última eleição.

Nessa conta, o Rio Grande do Sul, onde Rigotto venceu por 2.600 a 60, valia 4% dos votos. Já o Rio, onde Garotinho venceu por 926 a 36 votos, representava 14% dos votos válidos. Mas, segundo Eliseu Padilha, essa média ponderada foi aplicada incorretamente na apuração.

¿Um Estado que teve mil votos, por exemplo, com 900 para Rigotto e 100 para Garotinho teve o mesmo peso, para os apuradores, do que outro que deu 27 votos para Garotinho e 3 para Rigotto¿, explicou Padilha.

As regras, aceitas pelos candidatos, já começaram a ser questionadas durante a apuração. Partidários de Rigotto reclamavam que seria inviável validar uma votação em que o governador venceu por 50% de votos a mais. A discussão esquentou antes mesmo de os dois candidatos chegarem à liderança do partido na Câmara, onde foi concentrada a apuração.

No Rio Grande do Sul, contas feitas pelo PMDB local usando os mesmos porcentuais de proporcionalidade, davam a vitória a Rigotto.

Por fim, o governador do Rio Grande do Sul, que insistia que o partido declarasse que havia tido um empate, concordou com a vitória do adversário.

LIMINARES

Sem contar que o PMDB ainda não sabe se poderá considerar os resultados uma decisão oficial. O partido ainda enfrenta uma guerra de liminares na Justiça para confirmar a validade do resultado. Três decisões do presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Edson Vidigal, proibiram a realização das prévias, o que obrigou o partido a transformá-las em consulta informal. Vidigal já tinha concedido duas liminares impedindo as prévias à ala governista do partido ¿ que não quer a candidatura própria e sim a vice-presidência na chapa de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A segunda foi concedida depois das 22h de sábado, quando Vidigal voltou às pressas do Maranhão para derrubar a liminar concedida pelo ministro Hamilton Carvalhido na noite de sexta-feira e que mantinha as prévias. Ontem, Vidigal derrubou outro pedido do partido, de reconsideração da decisão. No entanto, o mesmo pedido deve ser julgado esta semana por uma das turmas do STJ. O partido ainda espera também a decisão de ação impetrada no Supremo Tribunal Federal (STF).