Título: Plenário decide futuro de João Paulo
Autor: Lisandra Paraguassú
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/04/2006, Nacional, p. A7

O deputado João Paulo Cunha (PT-SP) será julgado hoje pela Casa que presidiu em 2003 e 2004, acusado de receber R$ 50 mil do mensalão e de ter mentido à CPI dos Correios e ao Conselho de Ética da Câmara. Ontem, nem os mais bem informados parlamentares arriscavam um prognóstico sobre o resultado da votação de hoje, no plenário da Câmara.

O relator do processo no Conselho de Ética, deputado Cezar Schirmer (PMDB-RS) admitia a absolvição; outros deputados insinuavam que a cassação é provável porque ele é um "peixe grande", cujo julgamento atrai a atenção da opinião pública.

Apesar de ter produzido, no Conselho de Ética, um elogiado relatório, considerado devastador para João Paulo, Schirmer acha que boa parcela dos deputados já não se preocupa mais com as reações da opinião pública com o mensalão e muito menos com os relatórios do Conselho de Ética. "Estou bastante pessimista", confessou.

Ontem, João Paulo circulava tranqüilamente pela Câmara; ao entrar no plenário, recebeu cumprimentos e afagos de vários deputados. Mas não quis antecipar nenhum prognóstico: "Não dá para saber. Estou conversando muito, mas aqui as coisas mudam muito rápido. Não tenho como prever nada." Ele disse que só vai comentar o processo depois da votação e, hoje, vai discursar em sua defesa. "Não será nada bombástico", adiantou.

"PEIXE GRANDE"

Na onda de absolvições promovida pelo plenário nas últimas semanas - apenas 3 deputados foram cassados e 7 já foram absolvidos - as chances de João Paulo escapar aumentaram. Logo após a apresentação do relatório, parlamentares consideravam difícil a sua situação. Mas as últimas absolvições mostraram que os deputados não estão dando importância aos julgamentos do mensalão.

Conta a favor de João Paulo sua boa relação com os deputados, em especial o chamado baixo clero, parlamentares de pouca expressão, seduzidos por ele à época em que foi presidente da Câmara. Nas últimas semanas, ele se dedicou a aliciar todos os colegas com quem consegue conversar, até mesmo aqueles que se dizem claramente contrários a sua absolvição.

Por outro lado, joga contra o deputado a imagem de ser um "peixe grande", um personagem de grande visibilidade, cuja cassação é cobrada pela opinião pública, a exemplo dos ex-deputados José Dirceu e Roberto Jefferson. "Vai ser uma briga feia. João Paulo é peixe grande, não dá para saber o resultado", disse o vice-líder do governo, Beto Albuquerque (PSB-RS). O presidente do Conselho de Ética, Ricardo Izar (PTB-SP), também aposta no efeito do "peixe grande". "Há um clima de grande tensão na Casa. Não dá para prever o que pode acontecer, mas João Paulo é um dos caciques. E a reação do plenário tem sido mais violenta com os caciques", disse.