Título: Acareação reforça suspeita sobre dinheiro para pagar dívida de Lula
Autor: Rosa Costa e João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/04/2006, Nacional, p. A10

O presidente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Paulo Okamotto, acabou aumentando ontem as suspeitas sobre a origem do dinheiro que usou para quitar um débito de R$ 29,4 mil do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o PT e despesas de R$ 26 mil com aluguel contraídas por Lurian, filha do presidente. Durante acareação na CPI dos Bingos com o ex-petista Paulo de Tarso Venceslau, Okamotto ouviu repetidos apelos para abrir mão de seu sigilo bancário, mas resistiu fortemente à proposta.

Okamotto assegurou que entre suas atribuições nunca esteve a de cuidar das finanças de quem quer que seja - e foi enfático nas quatro vezes em que fez a mesma afirmação, em resposta ao senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) e ao líder do PFL, José Agripino (RN). "Eu nunca cuidei das finanças pessoais de ninguém, só das minhas", sustentou, após dizer que iria "refletir" sobre o alerta feito por Agripino de que sua resistência em abrir o sigilo bancário estaria "puxando o presidente Lula para baixo como partícipe de um esquema escuso para pagar suas contas".

"É um Fiat Elba", comparou o senador, referindo-se ao carro comprado com dinheiro do esquema PC pelo ex-presidente Fernando Collor, que foi decisivo para seu impeachment.

"Nego que eu seja responsável pelas finanças de quem quer que seja", repetiu Okamotto, evitando dar maiores explicações, sob a alegação de que estava amparado por liminar do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Sepúlveda Pertence que restringia a acareação a fatos relacionados a ele e a Venceslau, que foi secretário de prefeituras petistas.

ACM disse que, apesar do argumento de Okamotto, ele, como senador, poderia falar o que quisesse. "E talvez seja uma das coisas mais graves que aconteceram aqui, ele não negou que é o pagador das contas do presidente e de sua filha", provocou. Ao que o presidente Sebrae rebateu: "Eu nego, sim, já tinha dito isso em outra ocasião." O petista Tião Viana (AC) concordou quanto à necessidade de Okamotto abrir seu sigilo, "para que não paire nenhuma responsabilidade sobre um homem público". Mas frisou não ser esta uma das competências da CPI dos Bingos.

O senador Jefferson Péres (PDT-AM) disse que entenderia como "teimosia" se a decisão de manter a conta bancária em sigilo afetasse apenas o próprio Okamotto. "Mas quem está em jogo é seu amigo dileto e presidente da República. O senhor sabe como isso comprometeu o presidente, ele vai sangrar na campanha eleitoral, seu amigo vai desmoronar", advertiu. O presidente do Sebrae foi categórico ao garantir que seus dados bancários continuarão fechados, enquanto estiver amparado pelo STF. "Os senhores, mais do que eu, sabem que temos os direitos individuais que a Constituição garante", alegou.

No fim da sessão, indagado por jornalistas se iria abrir o sigilo, o presidente do Sebrae desconversou. "A primeira coisa que eu vou fazer é ir ao banheiro, estou apertado."

A acareação foi marcada pela troca de insultos entre Okamotto e Venceslau. "Olha para mim e fala: você está mentindo agora ou mentiu antes?", questionou Venceslau. "É você quem mente, mentiu e mentiu antes", rebateu Okamotto. Venceslau disse que quando quis denunciar a Consultoria para Empresas e Municípios (CPEM), ligada ao compadre de Lula, Roberto Teixeira, em 1993, procurou Okamotto "porque ele era o porta-voz" de Lula. "Ele representava o Lula, cuidava das finanças do Lula, inclusive como contador", justificou.

Desse episódio, que resultou em sua expulsão do partido, o economista afirmou que Lula no mínimo "foi conivente" diante dos contratos das prefeituras petistas com a CPEM. Repetiu a acusação de que Okamotto achacava empresários credores de prefeituras petistas para abastecer o caixa 2 do PT.