Título: Embrapa vai testar arroz dourado
Autor: Cristina Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/03/2006, Vida&, p. A38

Grão geneticamente modificado tem alta concentração de betacaroteno

O Brasil pode ter seu próprio "arroz dourado" em alguns anos. A Embrapa e o gerente do projeto internacional, Jorge Mayer, começam a conversar sobre o assunto na terça-feira, em Brasília.

O arroz dourado é um grão transgênico com alta concentração de betacaroteno, que se converte no corpo em vitamina A, cuja deficiência pode provocar problemas de saúde, como a cegueira, especialmente em crianças. A intenção da Embrapa é usar o conhecimento dos cientistas do projeto internacional para criar uma versão nacional, que seria testada no Maranhão.

O arroz dourado foi apresentado em 1999 como uma promessa da biotecnologia para remediar a falta de vitamina A na mesa dos países pobres. Ele contém dois genes estrangeiros, um retirado de uma bactéria ou do lírio; outro, do narciso. Os genes foram implantados na variedade japônica, comum nos países asiáticos. O plano da Embrapa é colocar esses dois genes na variedade índica, a mais utilizada no Brasil.

Para tanto, só falta fechar o acordo. Esse transgênico pertence à multinacional Syngenta - que liberou a patente em alguns países pobres e para produções pequenas. Acredita-se que para abrir mão dos royalties no Brasil, a empresa pedirá contrapartida. "Podem querer um intercâmbio de conhecimento", acredita o pesquisador Afonso Celso Valois, da Embrapa.

CONTROVÉRSIAS

A Organização Mundial da Saúde calcula que 250 milhões de crianças em idade pré-escolar não consomem betacaroteno suficiente. No Brasil, a vitamina A é dada a crianças durante campanhas de vacinação.

A primeira geração de arroz dourado apresentava alguns problemas. Os grãos não continham a quantidade mínima recomendada de betacaroteno. Também carregavam o gene de um antibiótico, usado como marcador para que os cientistas soubessem, no DNA do arroz, onde havia sido feita a modificação. A nova geração não contém o marcador, e o nível de betacaroteno foi elevado em 20 vezes.

O maior problema que o projeto enfrenta hoje é a falta de leis de biossegurança nos países-alvo. Até hoje, só um teste de campo foi feito, e nos Estados Unidos. O Brasil pode ser o segundo, caso o acordo saia e seja aprovado na Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio).