Título: IBGE vê acomodação no emprego
Autor: Jacqueline Farid
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/03/2006, Economia& Negócios, p. B1

Resultado de janeiro, comparado ao de 2005, mostra queda de 1,3%; para Ipea, contratações voltam no 2.º trimestre

O mercado de trabalho industrial iniciou o ano em acomodação. A ocupação ficou estável em janeiro em relação a dezembro, após três meses consecutivos de queda nessa base de comparação. A trajetória de queda ante igual mês do ano passado, entretanto, manteve-se inalterada com redução de 1,3% na ocupação ante janeiro de 2005, a quinta taxa negativa consecutiva. Os salários também caíram em relação ao mesmo mês do ano passado (0,2%) embora tenham apresentado crescimento de 5,3% ante dezembro, um saldo pontual, distorcido por benefícios como o 13º e 14º salários.

Segundo Fernando Abritta, da coordenação de indústria do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), como o emprego responde com alguma defasagem aos movimentos da produção, é possível que a estabilidade na ocupação da indústria em janeiro ante dezembro, após meses de queda, tenha respondido à melhoria no nível de atividade industrial no quarto trimestre do ano passado. "O emprego industrial está em fase de acomodação", avalia.

A indústria só deve voltar a contratar a partir do segundo trimestre, acredita o pesquisador Marcelo de Ávila, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Ele avalia que a estagnação no emprego industrial reflete ainda a existência de estoques indesejados, acumulados durante o fraco desempenho da economia no ano passado. "Já houve momentos de pico de vendas em dezembro e janeiro, como mostram levantamentos recém-divulgados pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo ( Fiesp), mas a indústria ainda está esperando escoar todo o estoque para contratar pessoal", comenta.

Abritta, do IBGE, observou que "a indústria é poupadora de mão-de-obra e talvez a queda dos juros ainda não esteja afetando a produção e, em conseqüência, o emprego". No caso de São Paulo, o número de ocupados cresceu 0,4% em janeiro ante igual mês do ano passado. Para dados regionais, não há números comparativos a mês anterior. Os juros em queda e a esperada reativação da economia devem trazer resultados positivos para o emprego na indústria, mas "nada excepcional", na opinião de Ávila.

"A estimativa é de que o resultado final seja melhor do que o de 2005, mas nada que se aproxime do excelente saldo de criação de vagas de 2004", diz o pesquisador, lembrando que de dezembro de 2003 a setembro de 2004 o emprego industrial teve o maior crescimento da série, com um acumulado de 4,8%.

Na divulgação feita ontem pelo IBGE, Abritta avaliou também os dados da folha de pagamento real da indústria em janeiro e explicou que o aumento de 5,3% ante dezembro reflete especialmente o pagamento de benefícios como o 13º e, em alguns segmentos, o 14º salário, especialmente na indústria extrativa, cujo aumento da folha no mês foi de 23,7%. Na indústria de transformação a expansão foi bem menor, de 3,7%.