Título: Serraglio quer indiciar Dirceu e Gushiken
Autor: Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/03/2006, Nacional, p. A15

O relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), afirmou ontem que vai solicitar ao Ministério Público o indiciamento dos ex-ministros José Dirceu e Luiz Gushiken. O pedido de condenação de Dirceu será por tráfico de influência e corrupção ativa.

No relatório final da CPI, que só deverá ser apresentado no dia 29 de março, Serraglio vai propor o indiciamento de mais de cem pessoas envolvidas no escândalo do mensalão.

O indiciamento de José Dirceu será pedido com base no depoimento do ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), que o acusou de chefiar o esquema de pagamento de recursos a parlamentares para votar a favor do governo. Gushiken terá seu pedido de indiciamento por supostas irregularidades em contratos de publicidade de estatais, que eram supervisionados pela Secretaria de Comunicação (Secom), sob o seu comando. "Solicitamos o auxílio de dois delegados da Polícia Federal para definir direitinho a tipificação de cada um dos que vão ser indiciados", explicou Serraglio. "No caso do José Dirceu existem fatos e testemunhas que o condenam", argumentou.

José Luis de Oliveira Lima, advogado do ex-ministro José Dirceu, qualificou de "despropositadas e fictícias" as declarações do relator. "Nada foi apurado contra o ex-ministro. Essas afirmações são fruto da criatividade intelectual do deputado Osmar Serraglio", disse Lima. Segundo ele, há informações de que o nome de José Dirceu sequer será mencionado no inquérito sobre o mensalão, a cargo do Supremo Tribunal Federal.

'INJUSTIÇA'

Através de sua assessoria de imprensa, o ex-ministro Gushiken também reagiu à proposta de Serraglio de indiciamento. "O relatório estará cometendo uma injustiça. São acusações levianas e infundadas", disse Gushiken, que hoje está na chefia do Núcleo de Assuntos Estratégicos (NAE).

Osmar Serraglio confirmou ainda que, no texto final, vai incluir o nome do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.Ele vai descrever o episódio em que Lula foi avisado sobre a existência do mensalão pelo então deputado Roberto Jefferson. Na ocasião, o presidente pediu que seu ministro da Articulação Política na época, Aldo Rebelo (PC do B-SP), e o então presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) investigassem a denúncia.

No relatório final, Serraglio vai citar ainda as fontes dos R$ 55 milhões que abasteceram o caixa 2 montado pelo empresário Marcos Valério. Uma das fontes do valerioduto teriam sido recursos desviados do Banco do Brasil. As investigações da CPI não avançaram, porém, na conexão entre fundos de pensão e o esquema de Valério. "Não encontramos fundos de pensão alimentando o valerioduto", disse Serraglio.

A menos de um mês do fim da CPI, o relator fez ontem um desabafo sobre o Congresso. Afirmou que, antes de assumir a relatoria, "tinha uma outra visão" do parlamento. "Não sabia dessa promiscuidade, desse tráfico de influência. Me decepcionei", afirmou.