Título: PT muda de rota e decide poupar figura de Palocci
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/03/2006, Nacional, p. A10

Após novas denúncias, partido vai amenizar críticas à política econômica na reunião do Diretório Nacional

Depois das novas denúncias envolvendo o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, o PT vai amenizar as críticas à política econômica na reunião do Diretório Nacional, hoje, em São Paulo. A ordem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é cerrar fileiras em apoio a Palocci, na tentativa de blindar o ministro do bombardeio da oposição.

Nos últimos dias, foram riscados dos documentos reservados do PT - produzidos por comissões internas para servirem de subsídio ao programa de Lula à reeleição - os trechos mais ácidos sobre a condução da economia, recheados por críticas às políticas monetária e fiscal. Para não criar mais um foco de incêndio, a cúpula petista jogará para o 13.º Encontro Nacional do PT, em abril, a discussão dos temas polêmicos, como as mudanças desejadas na economia e o leque de alianças para um eventual segundo mandato de Lula.

"O partido não tem obrigação de concordar com tudo o que o governo pensa sobre política econômica, mas, ao mesmo tempo, precisa ter inteligência para tratar o tema com a devida cautela, até para evitar a interpretação comum de que está em choque com a política econômica, o que não é verdade", disse Berzoini.

Na prática, o diretório do PT vai aprovar no fim de semana apenas uma "resolução sobre conjuntura", na qual os ataques à oposição vão substituir as críticas contundentes à política econômica. A idéia é destacar o que os governistas chamam de "tentativa desesperada" dos tucanos de reaquecer a crise política e criar um clima de instabilidade no País a menos de sete meses da eleição. "O alvo do ataque não é Palocci: é o presidente Lula", resumiu Berzoini.

O documento em discussão deve evitar menções diretas a Palocci. "Esse problema tem de ser mantido na esfera do governo, não diz respeito ao PT", afirmou um integrante da Executiva Nacional. O texto também trará uma análise do lançamento da candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB) à Presidência, tratado como opção "conservadora", alinhada à "agenda neoliberal".

O secretário de Organização do PT, Romênio Pereira, admitiu que os documentos produzidos sofreram alterações depois que trechos foram revelados pelo Estado, no dia 9. "É natural que o partido do presidente tenha propostas e queira avanços. Mas o receio do governo é que o PT, ao pontuar as críticas, dê munição para as oposições." Os textos serão apresentados ao Diretório hoje e será aberto um prazo para que recebam emendas.

Para o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, "só tem um jeito de ter posição unificada no PT: é defender o governo". Bernardo estará na reunião do Diretório.

No texto preliminar sobre diretrizes do programa para a reeleição, a defesa de ajustes na economia, com o Banco Central "sintonizado" aos grandes problemas nacionais, é entremeada por uma longa lista de conquistas do governo.