Título: Minério de ferro vai subir, apesar da pressão chinesa
Autor: Beth Moreira
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/03/2006, Economia & Negócios, p. B5

Diretor da Vale diz que regra de mercado prevalecerá: se há pouca oferta e muita procura, o preço aumenta

O diretor-executivo de Finanças da Companhia Vale do Rio Doce, Fábio Barbosa, acredita que as pressões da China não deverão ter força suficiente para impedir o reajuste do preço do minério de ferro. Ele disse que a forte demanda, num quadro de oferta escassa, deverá fazer com que prevaleça a regra de mercado, com o aumento dos preços. "O mercado é implacável, vai prevalecer".

Em reunião com a Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec), ele afirmou que as medidas administrativas anunciadas pela China regular as importações de minério de ferro estão fadadas ao fracasso, comentando que não mudam a política da empresa de continuar discutindo preços diretamente com clientes.

Ele acrescentou que a decisão das usinas chinesas de concentrar na siderúrgica Baoesteel a responsabilidade de negociar com a mineradora é um movimento normal, que reflete a extrema organização do mercado. "Atualmente discutimos com dois grandes grupos europeus e dois asiáticos."

Segundo Barbosa, a economia mundial vive um ciclo bom e continuará com seus principais fundamentos inalterados, podendo alcançar um crescimento de 4% em 2006, repetindo o bom desempenho do ano passado. Ele afirmou que as perspectivas são de manutenção de crescimento nos Estados Unidos, de manutenção de bons sinais vitais na Zona do Euro e de expressiva melhora no Japão, o que assegura a continuidade de um ciclo virtuoso no cenário mundial.

Para o diretor da Vale, a taxa de crescimento na China pode chegar a 10% em 2006, mantendo o ritmo dos últimos dois anos, podendo ter uma redução gradual depois, mas sem chegar aos padrões ocidentais.

Ele afirmou que a estratégia de urbanização maciça do governo chinês é clara - o objetivo é levar 300 milhões de pessoas para as cidades, o que vai demandar maior consumo de energia, uso de transportes e de uma série de outros itens essenciais. "É um processo de mudança estrutural, que deve se manter e terá impacto no mercado mundial." Ele afirmou que só a escassez de matérias-primas poderá restringir o crescimento chinês.

PRODUÇÃO

A Vale do Rio Doce tem planos de elevar sua produção de minério de ferro para 300 milhões de toneladas até 2007, um crescimento de 67 milhões de toneladas ante o volume produzido em 2005, de acordo com Barbosa. Para este ano, a estimativa é de 264 milhões de toneladas.

Ele ressaltou que a empresa está operando à plena capacidade e não tem "pulmão" nos portos ou estoques para lidar com nenhum tipo de incidente.