Título: Demitido continua trabalhando na PUC
Autor: Renata Cafardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/03/2006, Vida&, p. A17

Professor de Filosofia do Direito mantém orientação de teses

Demitido no fim de fevereiro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), no corte que atingiu cerca de 30% dos professores, o advogado e professor de Filosofia do Direito Willis Santiago Guerra Filho, de 44 anos, não só ainda não foi homologar sua dispensa como continua dando aulas na pós-graduação da instituição. Com 15 alunos de mestrado e doutorado, dois deles prestes a defender suas teses, ele diz que precisa 'continuar o trabalho científico que começou', remetendo a 1983, quando entrou na PUC-SP como mestrando. 'Se fosse por uma questão salarial, já teria ido embora. Fiquei quase dois anos sem receber os salários regularmente', afirma, explicando que tem outros empregos. 'É que a PUC é um lugar onde a gente veste a camisa. Foi onde descobri minha vocação acadêmica', conta, dessa vez explicando porque continua a dar aulas após o corte.

O professor entrou com uma ação na Justiça contra sua demissão, motivada, segundo ele, por perseguições e brigas políticas. Enquanto espera, defende a decisão do Conselho Universitário, que votou pela revogação de todas as demissões feitas pela Fundação São Paulo, mantenedora da universidade e que atualmente a mantém sob intervenção. A votação, de acordo com a fundação, não tem validade. No entanto, de acordo com a professora Ana Cintra, presidente do programa de pós-graduação, o professor já recebeu uma notificação do Departamento de Recursos Humanos avisando que, como ele foi demitido, não poderá mais continuar com as aulas.

<>GREVE

O campus Monte Alegre, em Perdizes, teve ontem um dia de embates entre alunos sobre a greve decidida em assembléia na noite de anteontem. Estudantes ligados aos centros acadêmicos de Ciências Sociais e Filosofia, líderes da paralisação, bloquearam uma das entradas do campus com cadeiras. Também as retiraram das classes para colocálas no pátio. A ação revoltou alunos de outros cursos, como Direito, Administração e Economia, que tiveram aulas, mesmo sentados no chão.

Entre os grupos que defendem a greve e os que são radicalmente contrários a ela, está boa parte dos estudantes, que discutiam o problema sem se identificar com nenhuma corrente. 'Tem coisas boas e ruins.

Há muita desinformação, partido político ligado ao movimento estudantil se metendo. Ninguém dá soluções. Alguns reivindicam coisas impossíveis, como estatização', diz a aluna do 1º ano de Psicologia Fernanda Sangirarbi, de 19 anos.

Já os funcionários, que apoiaram a greve, não aderiram totalmente ao movimento - parte deles trabalhou ontem. Os professores, que não definiram uma posição, vão se reunir em assembléia ainda sem data. Eles devem divulgar hoje um texto sobre o encontro anteontem com o cardeal d. Cláudio Hummes, grãochanceler da PUC.

Em relação às aulas, a reitoria informou que 70 disciplinas, de cerca de 1.400, continuam sem professores. Já foram feitas 64 novas contratações, por um contrato de trabalho diferenciado, e outras 39 ainda devem acontecer nos próximos dias.