Título: Câmara cassa mensaleiro, mas absolve mais um
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/03/2006, Nacional, p. A12

Acusado de operar mensalão, Pedro Corrêa perde o mandato; Henry escapa com voto de 255 colegas

O plenário da Câmara apreciou ontem o caso de mais dois deputados acusados de envolvimento no esquema do mensalão. Pedro Corrêa (PP-PE) foi cassado, mas seu colega Pedro Henry (PP-MT) foi poupado.

A cassação de Corrêa teve 261 votos a favor, 166 contrários, 19 abstenções e 5 votos em branco. Ele foi acusado de ter recebido R$ 4,1 milhões do esquema de corrupção montado pelo ex-tesoureiro petista Delúbio Soares. Corrêa admitiu que seu partido recebeu R$ 700 mil.

Foi o primeiro parlamentar acusado de envolvimento direto com o mensalão a ser cassado. Antes, tinham perdido o mandato Roberto Jefferson (PTB-RJ) e José Dirceu (PT-SP), após denúncias de outra ordem. Corrêa ficará sem direitos políticos até 2015. A cassação obteve quatro votos a mais do que os 257 necessários.

Antes, à tarde, a Câmara absolvera o ex-líder do PP Pedro Henry (MT). Ele obteve a seu favor 255 votos, contra 176 pela cassação, 20 abstenções e dois voto em branco. Henry foi acusado pelo ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) de ser um dos operadores do mensalão. Mas nem as CPIs dos Correios e do Mensalão nem o Conselho de Ética conseguiram avançar na investigação. Por falta de provas, foi absolvido no Conselho - absolvição confirmada ontem em plenário.

Pedro Corrêa e seu partido, o PP, lutaram muito para evitar a cassação. Houve até ameaças, muitas. O deputado João Leão (PP-BA) avisou aos petistas que o PP não esperava deles outra coisa a não ser o voto a favor de Corrêa. "Caso contrário, não teremos como convencer nossos deputados a votar a favor de João Paulo Cunha (PT-SP)", disse Leão. João Paulo, ex-presidente da Câmara, é acusado de ter recebido R$ 50 mil das contas do empresário Marcos Valério. O Conselho de Ética aprovou parecer do deputado Cezar Schimer (PMDB-RS) que recomenda a sua cassação. Ele espera ser absolvido pelo plenário.

Além desse tipo de negociação forçada entre PP e PT, Pedro Corrêa e seus aliados trabalharam em outras frentes. Sem nenhum constrangimento, o ex-deputado Ronivon Santiago (PP-AC) foi para o plenário pedir votos a favor do presidente do PP. Ronivon foi cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) acreano sob acusação de compra de votos. A cassação foi confirmada pela presidência da Câmara há três meses.

Também o ex-deputado e ex-presidente da Câmara Severino Cavalcanti (PP-PE) trabalhouo para absolver Corrêa. Conversou pessoalmente e por telefone principalmente com parlamentares do chamado baixo clero, ainda fiéis a ele. Severino renunciou ao mandato no final de 2005 depois de ter sido acusado de cobrar propina do empresário de restaurantes Sebastião Buani. Assim, livrou-se do processo de cassação.

Na noite de terça-feira o PL fez um jantar na casa de seu presidente, o ex-deputado Valdemar Costa Neto (SP). Pedro Corrêa foi para lá e exigiu o voto por sua absolvição. Até adversários dele, como o deputado Almir Sá (PL-AP), prometeram que lhe dariam o voto de confiança. Costa Neto também renunciou ao mandato para fugir de processo de cassação, pois foi acusado pelo empresário Marcos Valério de ter recebido mais de R$ 10 milhões do esquema montado pelo ex-tesoureiro petista Delúbio Soares.

O relator do processo contra Pedro Corrêa, o tucano Carlos Sampaio (PSDB-SP), afirmou que o mensalão existiu. "Entendo que vossa excelência não recebeu mesadas, mas envolveu-se no mensalão por outros meios", disse Sampaio. "O seu envolvimento deu-se na forma como os partidos se relacionavam." Em seguida, Sampaio sustentou que o PT repassava dinheiro para o PP de Corrêa. De acordo com Marcos Valério, foram R$ 4,1 milhões. Corrêa admitiu que o partido recebeu R$ 700 mil, supostamente usados na defesa de Ronivon Santiago.

Carlos Sampaio achou estranha essa justificativa da defesa. "O PP disse que o dinheiro foi utilizado para pagar advogado para Ronivon Santiago. Era dinheiro repassado pelo PT. No Acre, o PT movia ações contra Ronivon, mas aqui, no plano federal, o PT fornecia recursos para defender Ronivon; lá, o PT apontava fraudes contra Ronivon, mas aqui oferecia subsídios para o deputado."

Na sua defesa, o deputado Pedro Corrêa atacou os meios de comunicação. "Venho para ter uma conversa franca com meus colegas, conversa olho no olho, sem truques, sem artifício da retórica", afirmou. "Setores da mídia, implacáveis e vorazes, exigem a decapitação dos acusados. Não importa o processo, a falta de provas. De nada vale a biografia do acusado, seu caráter, sua própria vida."

A argumentação, viu-se depois, foi insuficiente para a convencer os deputados.