Título: 'Pensei que era um pessoal honesto'
Autor: Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/03/2006, Nacional, p. A8

Francenildo reafirma denúncias e diz estar decepcionado com o governo

O caseiro Francenildo Santos Costa, conhecido como Nildo, reafirmou ontem que o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, freqüentava regularmente a mansão do Lago Sul alugada pela chamada república de Ribeirão Preto e lá era conhecido como "chefe".

Em entrevista coletiva organizada por seu advogado, ele disse que confirmará integralmente para a CPI dos Bingos o teor de reportagem publicada anteontem pelo Estado e garantiu que, por estar decepcionado com o governo, não recuará das denúncias. "Pensei que era um pessoal honesto e depois vi toda essa sujeira. Pessoas assim não deviam estar em cargos tão importantes", disse, ao justificar sua decisão de trazer o caso a público.

Segundo Nildo, Palocci chegava à mansão quase sempre dirigindo um veículo Peugeot, de vidros escuros. Algumas vezes ele era trazido pelo motorista Francisco das Chagas Costa ou por assessores do ministério, mas não em carro oficial.

Em diversas ocasiões, conforme relatou, Nildo e o ministro se entreolhavam rapidamente na entrada, mas não se falavam. Certa vez, quando Palocci ainda não conhecia direito o local, os dois trocaram algumas palavras pelo interfone da guarita, que é dotado de monitor de vídeo. "Ele me perguntou como sair da quadra. Eu o reconheci imediatamente pelo vídeo", explicou Nildo.

O caseiro contou que entre os assessores de Palocci circulava dinheiro guardado em "malinhas" que eram sempre transportadas pelo motorista Francisco Costa e por Vladimir Poleto, ex-assessor da prefeitura de Ribeirão.

Nildo também confirmou, na entrevista, que em certa ocasião acompanhou Francisco até o estacionamento do Ministério da Fazenda e testemunhou a entrega de um pacote contendo "bastante dinheiro" ao secretário particular de Palocci, Ademirson Ariosvaldo da Silva.

Das tais malinhas, segundo o caseiro, eram retiradas maços de notas para todo tipo de despesa de manutenção da mansão. Ele disse que essas despesas incluíam o pagamento das garotas de programa levadas para as festas e, também, a compra de bebidas e comida.

De acordo com Nildo, Palocci não participava dessas festas, mas ia à mansão habitualmente a cada 15 dias, sempre às quintas-feiras, depois das 18 horas, durante os oito meses em que o imóvel ficou alugado à turma de Ribeirão. Algumas vezes o ministro também foi à casa no final da tarde de domingo.

O caseiro também deu detalhes das festas que eram realizadas na mansão. Contou que no dia seguinte tinha de recolher "toda a sujeira" deixada nos quartos. Eram garrafas de vinho e uísque, pacotes de amendoim e de castanha, embalagem de salaminho, camisinhas usadas e caixas de Viagra.