Título: Palocci vive refazendo versões
Autor: Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/03/2006, Nacional, p. A8

Quando evidências não ajudam, ele recua e reexplica

Aos méritos, já reconhecidos, pelo modo como conduz a economia do País, o ministro Antonio Palocci soma também uma rara capacidade de sobrevivência política. Um dos pilares dessa resistência, ao qual ele recorre com freqüência, é negar tudo - e, quando as evidências não ajudam, recuar com jeito, reexplicar, admitir os fatos em termos bem mais suaves.

Foi assim quando ele negou, com toda firmeza, as fraudes em contratos de varrição de Ribeirão Preto, nos tempos em que era prefeito, entre 1996 e 2002. Cobrado, já como ministro, disse que não havia nada irregular naqueles contratos. Mas num depoimento no Congresso a oposição lhe mostrou, com base em investigação da Polícia Federal, que as fraudes chegavam a R$ 22,5 milhões. O ministro não se abalou. Diante das cobranças, com tantos detalhes sobre preços e quilômetros varridos, ele reclamou da CPI dos Bingos: "Isso vocês não perguntaram."

Em outra ocasião, acusado de arrecadar todo mês uma propina de R$ 50 mil da prefeitura de Ribeirão para o PT, ele fez pela TV outra convicta declaração de inocência: "Quero negar, categoricamente, com veemência, as acusações. Estou tranqüilo porque sei o que eu fiz e o que não fiz." Garantiu, em seguida, que aceitaria qualquer convite do Congresso para falar sobre qualquer problema.

Nas semanas seguintes, no entanto, ele fez uma exaustiva negociação sobre se iria depor ou não, se falaria só de política econômica ou também sobre os escândalos e se o fórum ideal para falar seria a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) ou a CPI dos Bingos.

Mas o grande momento dessa cruzada foi o caso do aluguel do avião de seu amigo Roberto Colnaghi. Falando à CPI dos Bingos, no dia 26 de janeiro passado, Palocci informou que, para uma viagem sua a Brasília, "o PT disponibilizou um avião particular, alugou um avião para poder fazer a viagem".

Informado do que dissera o ministro, seu amigo Colnaghi, dono do avião (um bimotor Sêneca), desmentiu-o a 7 de fevereiro, dizendo que "a aeronave jamais foi locada a terceiros, nem cobrado qualquer reembolso".

Palocci reagiu rápido. "Reconheço uma imprecisão terminológica em resposta a uma pergunta do ilustre senador Demóstenes Torres", explicou um dia depois. "Ao reafirmar que o PT disponibilizara um avião para meu transporte, recorri inadvertidamente à expressão 'alugou', sem me apegar à acepção estrita do termo."