Título: Alckmin avisa que vai dar 'um belo susto' nos petistas
Autor: Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/03/2006, Nacional, p. A6

Candidato do PSDB à Presidência ironiza avaliação do Planalto de que é conservador e nega que, se eleito, fará um governo de direita

Um dia depois de ter sido escolhido candidato do PSDB à Presidência, o governador Geraldo Alckmin ironizou a avaliação do Palácio do Planalto de que ele é conservador e seu eventual governo seria de direita. "Vejo com enorme bom humor. Vão levar um belo susto", afirmou Alckmin, acrescentando que não tem compromisso com imobilismo e privilégios. E reforçou: "(O susto) será no bom sentido, porque vamos chacoalhar as estruturas."

O governador fez pouco dos comentários de petistas, que o vêem como imprevisível, e manteve as críticas ao governo - como a lentidão para realizar a reforma agrária e o crescimento "raquítico" do País. Mas rejeitou ser chamado de anti-Lula. "Sou pró-Brasil, não sou anti ninguém. Não vou fazer campanha contra ninguém e tenho respeito pessoal pelo presidente Lula", salientou, após cumprir o seu segundo compromisso público de ontem.

Antes, no início da manhã, na abertura do 10º Congresso Mundial de Jovens Empreendedores, Alckmin havia dado uma pista sobre o tom de sua campanha. "Não pretendo fazer campanha como coruja a piar mau agouro", avisou ele, destacando que adotará uma linha voltada para o futuro, para a construção de "um grande projeto para o País". E prosseguiu: "Nós vamos trabalhar firme para o Brasil crescer, crescer e crescer com justiça social."

Concluída a fase de definição do candidato tucano, Alckmin destacou que até o dia 31, quando entrega o cargo de governador, aproveitará para construir alianças. Hoje, por exemplo, estará em Brasília, onde deverá manter contato com aliados.

Ele ressaltou, ainda, a importância da montagem de coligações "não apenas para ganhar a eleição, mas para governar" e disse que já conversou com o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), anteontem, ratificando o interesse do PSDB de compor chapa com os pefelistas. "(Vou procurar) todo o PFL. Se depender de nós, estaremos juntos", enfatizou ontem, mais de uma vez.

VICE

Ao comentar as articulações com o PFL, Alckmin evitou discutir nomes. Indagado se o líder pefelista no Senado, José Agripino Maia (RN), daria um bom vice, respondeu apenas que não queria antecipar o assunto. Negou, no entanto, que exista o entendimento de que o candidato a vice-presidente tenha de ser do Nordeste.

Em Brasília, Agripino confirmou o interesse do PFL em disputar com o PSDB a sucessão do presidente Lula. "A aliança com o PSDB é o status natural", destacou o senador.

Depois de participar de dois eventos em São Paulo, Alckmin seguiu para a maior cidade do interior paulista, Campinas, para acompanhar o início das obras de readequação de um trevo no entroncamento das rodovias Anhangüera e D. Pedro I.

SERRA

Em todos os compromissos, Alckmin se preocupou em dirigir palavras de agradecimento pelo "desprendimento" do prefeito José Serra - que tratou como "grande homem público" - por ter desistido da pré-candidatura a presidente.

O governador repetiu diversas vezes, também, que o processo de escolha do candidato do PSDB não deixou feridas nem produziu racha. Frisou que anteontem se reuniu duas vezes com Serra na Prefeitura, a última delas logo após ter sido anunciado candidato.

"Não há nenhum problema. Eu e o prefeito Serra falamos o mesmo idioma e trilhamos o mesmo caminho", destacou o governador.

Sobre a sucessão paulista, Alckmin afirmou que Serra é "um ótimo nome, extremamente qualificado" para a disputa. "Isso passa por uma decisão pessoal e conversa partidária", afirmou o governador, ponderando que em nenhum momento Serra colocou a sucessão paulista em debate.