Título: Governistas falham e PMDB mantém prévias
Autor: Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/03/2006, Nacional, p. A5

Idéia agora é convocar convenção nacional para discutir alianças e reavaliar conveniência de candidatura própria

Falhou a manobra dos aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no PMDB para derrubar as prévias. A ala governista do partido, liderada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), e pelo senador José Sarney (AP), não conseguiu reunir a maioria dos votos da Executiva Nacional para barrar as prévias em que será escolhido, no domingo, o candidato peemedebista à Presidência. Diante da previsão de um empate de votos no colegiado, o que não alteraria em nada o quadro atual, os próprios governistas passaram a trabalhar pelo cancelamento da reunião da Executiva, marcada para as 11 horas de hoje.

Venceram a batalha em favor das prévias o presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), e os dois pré-candidatos à Presidência - o governador licenciado do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, e o ex-governador do Rio Anthony Garotinho. Depois de conversa pessoal com Temer, em busca de um entendimento, Renan e Sarney concluíram que o confronto na Executiva só serviria para desgastar todos eles, indistintamente, e mudaram a estratégia. A tática escolhida foi a coleta de assinaturas para convocar uma convenção nacional no dia 8 de abril, para discutir o quadro de alianças em cada Estado e reavaliar a conveniência de manter a candidatura própria.

O dia foi tenso ontem em todas as alas do PMDB. A luta para conseguir maioria na Executiva Nacional pôs a prêmio a cabeça do líder do partido na Câmara, Wilson Santiago (PB). Eleito com o voto do grupo de Garotinho, que reúne duas dezenas de parlamentares, Santiago aderiu ao requerimento dos governistas, pedindo a reunião da Executiva Nacional.

"Quem bota tira", resumiu Garotinho, ao admitir a articulação para minar o apoio do paraibano e eleger, em seu lugar, o deputado Waldemir Moca (PMDB-MS), defensor intransigente da candidatura própria.

VERTICALIZAÇÃO

Em meio à luta interna, os governistas trabalham pela convenção em 8 de abril com o argumento de que, até lá, o Supremo Tribunal Federal (STF) já terá dado a última palavra sobre a vigência da verticalização das coligações para as eleições deste ano. Os parlamentares que se sentem prejudicados pela regra que proíbe alianças nos Estados entre partidos adversários na corrida presidencial, como Geddel Vieira Lima (BA), insistem em rediscutir a candidatura depois do "fato novo" produzido pelo Supremo.

Mas enfrentam desde já a oposição pública dos pré-candidatos. "A verticalização é só um argumento de quem não quer que o PMDB lance um candidato a presidente, que o partido recupere sua identidade e tenha cara própria", protestou Rigotto.

Na mesma linha, Garotinho adianta que é contra a realização de uma convenção para mudar o resultado de prévia. "Não podemos mudar uma decisão de 25 mil eleitores das prévias por 500 convencionais", argumentou. Ele afirmou que o estatuto do PMDB é claro ao estabelecer que a convenção proclamará o resultado das prévias, homologando a candidatura.

Não é o que pensam os que resistem a apoiar um candidato próprio em detrimento das alianças políticas que lhe facilitariam a vida nos Estados. Para estes, uma convenção nacional pode tudo, inclusive mudar o estatuto.

O líder do PMDB no Senado, Ney Suassuna (PB), é um dos que advertem que a legenda terá candidatos a governador em 19 Estados. A seu ver, o conjunto dessas realidades estaduais é que dirá se a candidatura própria à Presidência é ou não conveniente para os interesses do partido.