Título: Mercado interno recupera indústria
Autor: Jacqueline Farid e Paula Puliti
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/04/2006, Economia & Negócios, p. B1

Após um desempenho medíocre em janeiro, a indústria compensou as perdas com ótimos resultados em fevereiro. A expansão do crédito, o aumento da renda e a queda dos juros resultaram em maior dinamismo do mercado interno, permitindo aumento de 1,2% na produção do setor ante janeiro e expansão de 5,4% na comparação com fevereiro do ano passado.

Segundo Silvio Sales, chefe da coordenação de indústria do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com o resultado de fevereiro o setor praticamente zera a perda de 1,3% na produção em janeiro ante dezembro e retorna ao nível do fim do ano passado. Os bens de consumo foram o principal destaque nos resultados, o que, para ele, confirma que "o mercado interno ganha destaque na dinâmica industrial".

A produção de bens de consumo duráveis (eletrodomésticos, automóveis) aumentou 6% ante janeiro e 14,9% ante fevereiro de 2005, enquanto os semi e não-duráveis (remédios, alimentos, confecções) cresceram, respectivamente, variações de 1,7% e 6,3%.

Para Sales, o crescimento da produção de bens de consumo acima da média industrial reflete uma conjugação de fatores, como a manutenção do processo de expansão do crédito, mercado de trabalho mais forte, inflação em queda e redução da taxa básica de juros. Ele disse que as exportações permanecem como fator de contribuição para o dinamismo industrial, "mas com peso menor do que ocorreu no ano passado".

Também para o diretor do Departamento de Economia do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), Boris Tabacof, as exportações deixaram de ser o motor da atividade industrial, como aconteceu nos dois últimos anos, cedendo lugar ao mercado interno, que recupera seu dinamismo.

O diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Julio Sérgio Gomes de Almeida, avalia que a trajetória de redução da Selic, retomada em setembro do ano passado, começa a ter impacto positivo sobre a economia. Com os dados de ontem, o Iedi revisou a projeção de aumento da produção no ano de 4% para 4,5%.

Para Paulo Francini, diretor do Departamento de Pesquisas Econômicas da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), os dados do IBGE comprovam a tendência de recuperação da atividade. Ele acredita na continuidade do processo de alta nos próximos meses e aposta que a produção deve crescer em torno de 6% neste ano ante 2005.

INVESTIMENTOS

Mais que confirmar o vigor do setor industrial no primeiro bimestre - quando acumulou alta de 4,2% ante igual período do ano passado -, os dados divulgados ontem pelo IBGE anteciparam sinais positivos para o Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre, já que mostraram aumento dos investimentos e do consumo das famílias, duas variáveis importantes no desempenho da economia.

Os dados da produção de bens de capital e, especialmente, de insumos da construção civil no primeiro bimestre antecipam um bom desempenho dos investimentos (Formação Bruta de Capital Fixo, ou FBCF) no PIB, observou Sales.

Ele comparou o quarto trimestre do ano passado com o primeiro bimestre deste ano e apresentou dados detalhados dos dois períodos, que mostram aceleração não apenas na produção industrial como um todo (1,3% para 4,2%), mas também nesses grupos que compõem o investimento (insumos para construção civil e máquinas e equipamentos) no PIB.

A produção de bens de capital acelerou de um aumento de 4,2% no quarto trimestre de 2005 (sempre na comparação com igual período do ano anterior), para um crescimento de 8,6% no primeiro bimestre deste ano. Além disso, a produção de insumos para construção civil subiu de um acumulado de 2,9% no quarto trimestre de 2005 para 9,4% no primeiro bimestre deste ano.