Título: Ida à Inglaterra ajudou ascensão
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/03/2006, Nacional, p. A4

Analista ressalta impacto popular de fotos com a rainha

O aumento do salário mínimo e a propaganda oficial maciça ajudaram o presidente Lula a melhorar sua avaliação, mas o que funcionou mesmo para impactar o imaginário popular foi a viagem à Inglaterra e as poses ao lado da rainha Elizabeth II. "Um pau-de-arara sentado ao lado da rainha é o paradigma máximo do sonho da ascensão social", comenta o cientista político Antônio Lavareda, da MCI Estratégia, que analisa as pesquisas CNI/Ibope.

Lavareda diz que, na Inglaterra, Lula "foi um craque e fez um gol" quando acrescentou, à mística natural que a viagem representa no imaginário popular, a antecipação dos ganhos com a realização da Copa do Mundo de Futebol. Copas do mundo não elegem mandatários, diz ele, mas afetam o estado psicossocial - nos anos em que elas se realizam o povo entra num legítimo estado de euforia, que se traduz em satisfação e otimismo.

Para ele, desta vez foi a melhoria da imagem do governo que puxou para cima a preferência eleitoral por Lula (antes, já aconteceu de o presidente "puxar" o governo). Acima de tudo, diz Lavareda, o governo teve um primeiro trimestre ideal: deflagrou uma massiva campanha publicitária com vários temas, antecipou o aumento do salário mínimo e, por fim, contou com uma viagem de sonhos para impressionar o povo.

Foi muita agenda positiva para pouca agenda negativa, já que as CPIs entraram em passo de tartaruga e as denúncias de corrupção e desmandos não se repetiram, pois a oposição estava engalfinhada em si mesma, escolhendo o candidato que vai desafiar Lula em outubro.

Segundo Lavareda, para os candidatos à reeleição, a médio prazo, a correlação mais expressiva com a intenção de voto é a avaliação do governo. E a comprovação maior de que o governo deixou de ser incomodado é o resultado da pesquisa para a memória popular com o noticiário da imprensa - neles, a lembrança das pesadas denúncias, que antes tangiam o eleitorado para a oposição, se esgotou.

A socióloga Fátima Pacheco Jordão, da FPJ Fato e Jornalismo, avalia que a recuperação dos índices do governo se justifica em vários esforços bem-feitos, como a melhoria dos sistemas de crédito e de benefícios sociais, além da propaganda massiva e bem colocada dos últimos meses. "Isso dá uma consolidação muito grande para Lula e o governo neste momento", diz.

Mas ela adverte que este é "o melhor momento do governo e de Lula". Daqui por diante, prevê, começa a se reduzir o vácuo político a que a oposição se confinou nos últimos três meses, enquanto decidia seus candidatos. "Aí passa a haver um contraponto", opina ela, "inclusive com a sucessão de programas partidários gratuitos e, mais adiante, o início da própria campanha eleitoral."