Título: Proposta da VarigLog pela Varig prevê 5 mil demissões
Autor: Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/04/2006, Economia & Negócios, p. B14

O projeto de compra da Varig pela ex-subsidiária VarigLog prevê um forte enxugamento da companhia, com queda dos cerca de 11 mil empregados atuais para apenas 6 mil, redução da frota de 71 (54 deles voando atualmente) para 48 aviões e a criação de uma nova empresa, sem dívidas. A proposta não contempla solução para o pesado endividamento, que ficaria isolado numa outra empresa. Sindicatos de trabalhadores e o fundo de pensão Aerus já rejeitaram ontem o projeto.

Segundo a presidente do Sindicato Nacional dos Aeroviários, Selma Balbino, porém, os cortes podem ser ainda maiores. Ela disse que a proposta prevê a criação de uma nova empresa com apenas 4,9 mil empregados. Segundo os aeroviários, restariam na empresa 770 pilotos, 1,85 mil comissários e 2,25 mil empregados em terra.Na Varig, já há vários programas de desligamento incentivados, não quantificados ainda.

A alternativa foi apresentada ao conselho de administração da Varig e a um grupo de credores ontem à tarde pelo chinês Lap Chan. O executivo é autor da proposta e investidor do fundo americano Matlin Paterson, que participa do consórcio Volo Brasil, dono da VarigLog. Credores que participaram da reunião confirmaram que a nova empresa ficaria apenas com a "parte boa" da Varig e o endividamento ficaria fora, conforme informado ontem pelo Estado.

O presidente do Aerus, Odilon Junqueira, disse que o projeto deixa o fundo de pensão "no deserto", porque não reconhece a dívida acumulada. Segundo ele, "é consenso que os outros credores não devem aceitar". "Há um oportunismo grande na proposta. Querem ganhar dinheiro, comprar na bacia das almas", chegou a comentar o vice-presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA), Gelson Fochesato.

A proposta chega numa hora crítica, mas corre o risco de não decolar. O representante de um grande credor privado indicou que as empresas de leasing (aluguel de jatos) também receberam com preocupação a proposta e precisam analisá-la. Além de não reconhecer as dívidas anteriores, a frota encolhe. Além disso, a VarigLog quer padronizar o tipo de avião para gerar ganhos de escala.

Apesar dessas avaliações, a VarigLog traçou um quadro positivo das reuniões. Segundo a assessoria, a proposta foi bem aceita e será apresentada ao colégio deliberante da Fundação Ruben Berta (FRB) nos próximos dias. Além disso, informou apenas que a empresa está aberta a negociar. Embora não divulgue, a VarigLog sabe que a alternativa é polêmica e está aberta a contrapropostas. Caso avance, o projeto de compra teria ainda de ser aprovado pela Justiça.

Um advogado de outro credor privado alertou que não está prevista no plano inicial a venda isolada de uma unidade da empresa (parte operacional) no plano de recuperação. Por isso, seria necessária uma mudança nos termos do plano, o que dependeria de nova assembléia. Há ainda críticas à participação do fundo americano na operação. O Sindicato Nacional das Empresas Aéreas (Snea) reiterou ontem que pretende contestar a oferta.

A assessoria da VarigLog informou que o Matlin tem menos de 20% do capital votante da Volo Brasil. E ontem, durante a apresentação, o próprio Chan teria dito que a proposta é da VarigLog, que é uma empresa brasileira, explicou. Hoje, haverá reunião de credores para escolher quem será o gestor do FIP controle, conforme previsto no plano de recuperação judicial da empresa.

O FIP controle é o fundo que receberá as ações que a FRB detém na Varig (87% do capital total), cujas cotas serão transferidas no futuro, quando houver a entrada de investidores na empresa, conforme o plano inicial. Para o presidente do Aerus, este é o plano em curso e que precisa ser acelerado.

Uma fonte que acompanha o dia-a-dia da empresa comentou ontem que a empresa fez contato telefônico com a Casa Civil, para sensibilizar sobre a situação da companhia. A Varig informou somente que houve realmente um contato com a Casa Civil, mas como tem sido feito freqüentemente. Além de apoio na renegociação de dívidas com credores estatais, a Varig já indicou no passado a possibilidade de receber empréstimo-ponte do BNDES. O banco, contudo, tem sinalizado que não fará operação de socorro.