Título: Luxo no ar não atrai novos passageiros
Autor: Mariana Barbosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/03/2006, Economia E Negócios, p. B19

Aéreas americanas falham ao buscar o consumidor de alta renda

Elas oferecem cobertores de cashmere, coquetéis Bellini (feito com vinho Prosecco e suco de pêssego), travesseiros Tempur-Pedic (elásticos, que se adaptam às dimensões e formato da cabeça) e muito espaço para as pernas. Duas novas linhas aéreas de classe executiva começaram a oferecer vôos entre a Grã-Bretanha e os Estados Unidos. Mas um ingrediente está faltando: os passageiros.

A MaxJet a e Eos, ambas de propriedade americana e operadas por americanos, partiram para romper o padrão das linhas aéreas de longa distância dedicando suas aeronaves exclusivamente a viajantes de primeiríssima classe, que querem atravessar o Atlântico imersos no máximo de conforto. As empresa começaram a operar em outubro, a partir do aeroporto de Stansted, em Londres, em meio a uma intensa publicidade e, poucos meses depois do lançamento, estão entusiasticamente exagerando seu progresso.

Os números obtidos pelo Guardian, no entanto, mostram um quadro bem menos otimista. Segundo documentos oficiais da Civil Aviation Authority (Departamento de Aviação Civil), 2.726 pessoas voaram entre Stansted e Nova York em janeiro. A MaxJet e a Eos ofereceram 8.484 lugares, o que significa que, juntas, venderam 32% das passagens disponíveis.

Geralmente, janeiro é um mês fraco para viagens aéreas, mas dezembro, quando o número de vôos atinge seu pico nos feriados do Natal e Ano Novo, foi ainda mais calmo para as novatas da aviação comercial, que conseguiram vender apenas 2.563 lugares. O número de passagens vendidas em novembro foi de apenas 2.201. Os analistas já questionam se o conceito de uma companhia aérea muito luxuosa é sustentável numa época de linhas aéreas de orçamento baixo, e também se o aeroporto de Stansted é um lugar apropriado para atrair executivos.

Das duas linhas aéreas, a Eos é a destinado ao público de poder aquisitivo mais alto. Comandada por um ex-diretor de estratégia da BA , David Spurlock, a Eos recebeu esse nome em homenagem à deusa grega da aurora. Cobra 3,5 mil pela viagem de ida e volta, com camas horizontais de 2 metros, servindo champanhe Lanson Black Label e oferecendo translado de limusine na ida e na volta. Usa aeronaves Boeing 757, que geralmente transportam 200 pessoas, para transportar apenas 48 passageiros.

A MaxJet é mais modesta: a viagem de ida e volta custa 854. Seus assentos não viram camas e transporta 102 passageiros, mas oferece refeições gourmet, bolinhos com creme e um sistema de entretenimento com mais de 100 horas de variedades. Além disso, a proporção da tripulação é de um tripulante para cada dez passageiros, enquanto na maioria das linhas aéreas esta equação é de um tripulante para cada grupo de 50 passageiros.