Título: Governo festeja auto-suficiência
Autor: Carlos Franco, Nicola Pamplona
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/03/2006, Economia & Negócios, p. B13

Petrobrás comemora com campanha de R$ 37 milhões que começa no dia 22 de abril

A campanha da Petrobrás para comemorar a auto-suficiência do País em petróleo deve começar a ser veiculada em 22 de abril, data que marca o Descobrimento do Brasil, e custará à estatal R$ 37 milhões. Criada pelas agências de publicidade F/Nazca, Duda Propaganda e Quê, a campanha partirá da luta dos brasileiros nos anos 50 com a campanha "O petróleo é nosso" até a auto-suficiência nos dias de hoje.

Com a entrada em operação da P-50, plataforma da Bacia de Campos, em abril, o País ampliará a produção em 180 mil barris/diários, atingindo 1,95 milhão de barris diários, 50 mil barris acima do 1,9 milhão que o País deve consumir por dia este ano. Com isso, dirá a campanha, o País ficará mais imune a eventuais crises de petróleo.

É no dia 22 de abril, após um período de testes de produção, que a P-50 deverá ser inaugurada em grande evento. Mesmo não aparecendo nas peças publicitárias da campanha, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva certamente usará a auto-suficiência e o evento de comemoração na sua campanha pela reeleição. As peças publicitárias seguem a mesma linha ufanista de quando a estatal comemorou 50 anos, em outubro de 2003.

Os planos da estatal, no entanto, podem ser ofuscados por decisão dos ministros do Tribunal de Contas da União (TCU) de atender à representação do senador José Jorge (PFL/PE) de investigar a renovação dos contratos da estatal com as agências de publicidade. O alvo do senador foi o contrato da estatal com a agência de Duda Mendonça, publicitário que cuidou da campanha de Lula em 2002 e hoje é um dos principais investigados pela CPI dos Correios.

Nas peças da campanha publicitária da auto-suficiência, em nenhum momento a Petrobrás tratará de preço do combustível para o consumidor, apenas dirá que ele agora conta com a garantia de abastecimento. Na opinião de especialistas, o maior impacto dessa conquista se dará na balança comercial do setor, que deixará de ser um peso para o País e já neste ano terá saldo positivo.

A Petrobrás espera fechar 2006 com superávit comercial de US$ 3 bilhões em sua balança de petróleo e derivados, obtido a partir de um saldo líquido de exportações de cerca de 150 mil barris por dia.

No ano passado, a empresa exportou 58 mil barris por dia a mais do que importou, mas teve déficit comercial de R$ 130 milhões porque compra produtos mais caros (óleo diesel e petróleo leve) do que o que exporta.

Por isso, a prioridade a partir de agora é ampliar a capacidade de refino, principalmente no exterior. O objetivo é transformar o petróleo nacional - que custa US$ 10 a menos do que o Brent, usado como referência de preços - em derivados, tomando para si a margem de refino que hoje está no bolso de seus clientes.

O presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, disse que a empresa busca oportunidades de refino no exterior, principalmente na Europa e nos Estados Unidos, o que ampliará ainda mais o lucro da estatal.