Título: Economia uruguaia aposta na celulose
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/03/2006, Economia & Negócios, p. B6

Investimento de US$ 1,8 bilhão nas fábricas representa 13% do PIB do país

As duas fábricas de celulose em construção no município de Fray Bentos, na margem oriental do Rio Uruguai, na divisa com o território argentino, são cruciais para a recuperação da economia uruguaia, depois de 5 anos de grave crise.

Do início de 1999 até o final de 2003, o Uruguai sofreu uma seca que arrasou a agricultura; passou por inundações, na seqüência, que devastaram o que foi poupado pela seca; os focos de aftosa comprometeram as exportações de carne bovina; a crise argentina levou os depósitos nos bancos e provocou o fechamento de várias instituições em Montevidéu. O período é ironicamente chamado de "as pragas do Egito".

A espanhola Ence (Empresa Nacional de Celulose Espanha) e a finlandesa Botnia (Oy Mets¿ Botnia Ab), responsáveis pelas fábricas em construção, vão investir US$ 1,8 bilhão, o maior investimento direto da história do Uruguai, equivalente a quase 13% do PIB uruguaio.

Serão criados cerca de 12 mil postos de trabalho, dos quais 7.500 diretos e 4.500 indiretos. Todo o país será beneficiado e, em especial, a região sudoeste, considerada uma das mais pobres.

A autorização para a construção das fábricas ocorreu no governo do antecessor de Tabaré Vázquez, o conservador Jorge Batlle (2000-2005).

POLÍTICA FLORESTAL

A autorização seguia a política de direcionar o Uruguai ao setor florestal, iniciada em 1987, durante o governo do ex-presidente Julio María Sanguinetti (1985-2000). Com o passar dos anos, a política florestal tornou-se uma questão de Estado.

O país começou a plantar em média 50 mil hectares anuais de árvores, chegando às atuais 800 mil hectares reflorestados. O número é significativo, se comparado ao outro lado da fronteira: a Argentina, um país com território muito maior, tem apenas 1,5 milhão de hectares reflorestados. O Chile tem 2,1 milhões de hectares destinadas ao setor florestal, enquanto o Brasil conta com 5 milhões de hectares.

A Ence planeja produzir, na fábrica uruguaia, 500 mil toneladas anuais de celulose. A fábrica da Botnia tem projeto de produzir 1 milhão de toneladas anuais do produto.

As duas empresas se abasteceriam de eucalipto plantado em terras nacionais para produzir celulose. Segundo previsões, a exploração do eucalipto para as duas fábricas proporcionará um aumento de 1,8% no PIB uruguaio.