Título: Tabaré quer mediação de Lula na briga com Argentina
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/03/2006, Economia & Negócios, p. B6

Em Brasília, presidente uruguaio defende um 'Mercosul maior e melhor'

Sem citar diretamente os problemas que está enfrentando com a vizinha Argentina, o presidente do Uruguai, Tabaré Vasquez, aproveitou a declaração conjunta à imprensa, ao lado do presidente Lula, no Palácio do Planalto, para defender "um Mercosul maior e melhor", sem diferenças econômicas e territoriais. Lula, por sua vez, falou da necessidade de serem superadas as diferenças entre todos os sócios do bloco.

"O Brasil tem consciência de suas responsabilidades no seio do Mercosul. Como maior economia do bloco, estamos decididos a promover políticas concretas de distribuição equilibrada dos benefícios resultantes da integração regional. O Mercosul tem de beneficiar todos seus sócios", disse Lula, em resposta às continuadas críticas de que o Brasil e a Argentina são os mais beneficiados no bloco, que é integrado ainda por Paraguai e Uruguai. Os uruguaios têm reivindicado mais vantagens para eles e os paraguaios.

"O Mercosul é uma família, e, como toda família, temos por vezes nossos problemas. Mas tenho a convicção de que saberemos resolvê-los pela via do diálogo e do entendimento", declarou Lula, referindo-se indiretamente à "guerra da celulose". Os problemas começaram em 2005, quando duas modernas indústrias de celulose anunciaram a construção de fábricas na cidade uruguaia de Fray Bentos, perto da fronteira da Argentina. Isso provocou a reação de ambientalistas argentinos, para quem as indústrias poluiriam a bacia dos rios Negro e Uruguai. "Nossos inimigos, como disse José Artigas (herói uruguaio), são apenas aqueles que se opõem à felicidade de todos", afirmou ainda o presidente brasileiro.

Lula e Tabaré assinaram vários acordos nas áreas de energia - para garantir o fornecimento ao Uruguai - e de trânsito de brasileiros e uruguaios entre os dois países. "Quero expressar o compromisso do governo uruguaio para seguir trabalhando para o fortalecimento do Mercosul e o processo de integração regional, que é importante para todos nós", disse Tabaré, conciliador.

Lula, por sua vez, citou ações que visam ao equilíbrio do bloco, como a criação do Fundo de Convergência Estrutural e as negociações para o fim da dupla cobrança da Tarifa Externa Comum (TEC), e para atrair mais investimentos para os sócios menores, Uruguai e Paraguai.

"Tudo no pressuposto de um Mercosul unido, apto a falar com uma voz única nas negociações comerciais internacionais", acentuou Lula. Ele acrescentou que o "Mercosul de todos" só chegará com o fortalecimento das instituições do bloco, como o Parlamento Regional. "Somos um bloco de países soberanos, e nossa grande virtude tem sido a de forjar uma união em que todos estão em pé de igualdade", afirmou.

Tabaré, que fazia a sua segunda visita ao Brasil, fez questão de agradecer os acordos assinados com o Brasil, e de salientar que o Mercosul deve ser forte e coeso. "Sei do compromisso de primeira hora de seu governo com o Mercosul e com a integração sul-americana. Esses mesmos objetivos animam meu governo. Por isso, posso entender o sentido de urgência do governo uruguaio em ver realizado todo o potencial de nosso bloco regional", disse.