Título: Copom se manterá gradualista
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/03/2006, Economia & Negócios, p. B2

Pelo fato de, na 117ª reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), ter-se registrado votação divergente de três dos nove membros que o compõem, a divulgação da ata era aguardada com grande interesse. Como o voto divergente era a favor de um corte de 1 ponto porcentual na taxa Selic, e não de apenas 0,75 ponto porcentual, considerou-se que no próximo encontro as autoridades monetárias aceitariam abandonar sua política gradualista. Essa expectativa não se sustenta após a leitura da ata da reunião, que, no entanto, apresenta algumas mudanças em relação aos documentos anteriores.

Ela deixa claro que o objetivo da proposta dos dissidentes era apenas dar uma sinalização mais condizente com a melhora do balanço de riscos, ocorrida entre as reuniões de janeiro e de março.Todavia, como para manter a coerência do Copom, a ata nos indica que "esses mesmos membros (...) reconhecem que os próximos passos do Banco Central estarão condicionados à evolução dos indicadores de inflação e à sua projeção".

Não há revolucionários dentro desse organismo...

Mas a ata mostra alguma evolução. É importante o Copom ter reconhecido que a redução da Selic contribuiu para a melhora das expectativas sobre a inflação e para uma reação positiva da demanda interna e da produção industrial. No entanto, as autoridades monetárias estão ainda inseguras quanto aos efeitos da redução das taxas de juros sobre os preços.

A avaliação dos rumos da inflação é otimista, embora com certo excesso no que se refere à evolução dos preços dos combustíveis, diante do que acontece com os preços do petróleo, e mais ainda do álcool.

A reunião do Copom aconteceu em meio a perturbações no mercado financeiro internacional, em conseqüência da elevação da taxa de juros básica em diversos países industrializados. Os seus membros, todavia, consideram, a nosso ver com razão, que isso não representa uma ameaça para a economia brasileira.

Numa fase em que a grande maioria dos economistas aponta os gastos do governo federal e o excesso da carga tributária como os problemas a serem atacados com maior premência, acusou-se o BC de nunca mencioná-los nas reuniões do Copom. Mas, pela primeira vez, a ata do Copom se refere a eles, com muita discrição ainda, dizendo que a demanda será favorecida "em função do novo valor do salário mínimo e dos impulsos fiscais ocorridos no último trimestre do ano passado e esperados para o primeiro semestre deste ano". Teria sido melhor se o Copom mostrasse preocupação com isso.

A conclusão é que o Copom, na realidade, não renunciou à sua política gradualista e que, provavelmente, no dia 18 de abril optará por uma redução de apenas 0,75 ponto porcentual na Selic.