Título: Mais claro do que escuro
Autor: Celso Ming
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/03/2006, Economia & Negócios, p. B2

A ata da última reunião do Copom ontem divulgada foi a mais serena e otimista dos últimos 24 meses. Como cumpre a função de transmitir sinais sobre o comportamento futuro da economia, passa a mensagem de que, salvo eventuais surpresas, dá para apostar em ambiente favorável para a baixa dos juros e para o crescimento econômico.

Não era o que o Banco Central sinalizava há quatro anos, quando se intensificava a campanha eleitoral e o ambiente econômico estava contaminado pelo início da fuga de capitais provocada pela alta probabilidade de vitória do então candidato da oposição radical, Luiz Inácio Lula da Silva.

Hoje, a inflação está sob controle e embicada na meta (4,5% em 2006); não há turbulências no mercado internacional que possam conturbar o ambiente interno; as contas externas estão cada vez mais saudáveis; o prêmio de risco Brasil, que define o grau de aceitação dos títulos brasileiros de dívida, caiu para a altura dos 220 pontos e tende a cair mais; os preços internacionais do petróleo, embora altos, não devem disparar; estão dadas as condições para aumento da demanda interna e da produção, sem riscos de inflação.

Esta ata consagra o comportamento conservador do Banco Central e o gradualismo na condução da política monetária. Não há pressa em cortar os juros e isso é bom - deixa transparecer a ata - porque garante tanto uma queda maior dos juros quanto o prolongamento do período de baixa.

Manifestações insistentes do mercado financeiro vinham cobrando as razões que levaram três diretores do Banco Central a optar por um corte dos juros de 1 ponto porcentual, mais alto do que o de 0,75 ponto porcentual que prevaleceu.

Uma vez conhecidos os nomes dos diretores cujo voto ficou vencido e as razões evocadas por eles, mais facilmente a sociedade e o mercado financeiro poderão prever o comportamento futuro dos juros e o do setor produtivo.

Essa matéria tem sido objeto de discussões no Bank of International Settlements (BIS), a instituição, com sede na Basiléia (Suíça), que desempenha o papel de banco central dos bancos centrais. São três as posições sobre isso. A primeira é a do banco central da Suíça, que não abre ao público os votos dissidentes nem quem os pronunciou nem as razões deles. A segunda é a dos bancos centrais que divulgam o placar dos votos, apontam ou não as razões dos votos dissidentes, mas não mostram como votou cada dirigente. Finalmente, há o exemplo do Banco da Inglaterra (banco central inglês) que abre tudo: quem, como e por que votou.

A contagem da votação da última reunião já havia sido comunicada junto com a decisão. Mas desconheciam-se os nomes dos dirigentes que votaram diferentemente da maioria e as razões desses votos.

Na ata de ontem, o Banco Central avançou as razões dos três dirigentes que optaram por um corte de 1 ponto: "proporcionaria uma sinalização mais condizente com a melhoria no balanço de riscos observada entre as reuniões de janeiro e de março".

Mas prevaleceu o voto da maioria. Entendeu esta que a médio prazo um corte de 0,75 ponto porcentual "contribuiria para aumentar a magnitude do ajuste total a ser implementado". Quer dizer, se é para cortar mais os juros, é melhor cortar menos agora para seguir cortando menos também depois, mas por mais tempo.

Ficou entendido que na próxima reunião, de 19 de abril, pode sair mais um corte de 0,75 ponto, com boa probabilidade de que esse corte se repita na reunião de 31 de maio. Se isso se confirmar, os juros básicos terão recuado então para 15% ao ano, nível mais baixo desde dezembro de 1997.