Título: Autopeças viram estrangeiras
Autor: Patrícia Campos Mello
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/03/2006, Economia & Negócios, p. B1

Matéria-prima importada está substituindo a nacional

A TDM Friction, fabricante de pastilhas de freio da marca Cobreq, deve reduzir de 80% para 60% o índice de nacionalização de novos produtos. Matéria-prima e componentes adquiridos nos Estados Unidos, na Europa e na África do Sul chegam ao País por preços de 10% a 15% mais baixos, já descontados imposto de importação e logística.

O movimento de compra externa se intensificou no ano passado, diz Feres Macul Neto, presidente da TDM. Historicamente, do total de compras, de 17% a 20% eram importados, principalmente itens não produzidos no Brasil. No ano passado, ao perceber que não haveria alteração na política cambial, a companhia de Indaiatuba (SP) passou a comprar mais lá fora.

"A participação dos importados subiu para 22% ou 23% e este ano aumentará mais", diz Macul. Entre os produtos substituídos estão pó e fibras metálicas de aço e componentes semi-acabados. A TDM também "tirou o pé do acelerador" de um investimento para ampliar a produção de peças para os EUA, diante da perda de competitividade. Parte de um programa de 18 milhões iniciado em 2005, que seria concluído este ano, foi postergado. Cerca de 20% do valor seria aplicado este ano, mas parte ficou para 2007.

O presidente do Sindicato Nacional dos Fabricantes de Autopeças (Sindipeças), Paulo Butori, vê com preocupação o movimento das compras externas. "É preciso ter cuidado com o oportunismo, pois a situação pode se reverter e aí será tarde." O recado é dirigido às montadoras que estão orientando fornecedores a importarem mais, principalmente da China.

Recentemente, montadoras pediram aos fornecedores para reduzir exportações para atender ao mercado interno. "Agora é o inverso", reclama Butori, que teme o impacto das importações nas pequenas fabricantes. Pelo menos uma empresa do interior de São Paulo já manifestou intenção de fechar as portas por falta de contratos.

A SKF, fabricante de rolamentos em Cajamar (SP), também ampliou importações e tem encontrado preços entre 20% e 25% mais baratos, afirma o diretor Eduardo Buchaim. A empresa traz produtos da Argentina, Alemanha, Índia, China, França e Itália. "O dólar desvalorizado melhorou a competitividade da importação."

Butori sugere que a importação de peças não disponíveis no País tenha alíquota zero. Mas, para as demais, defende a aplicação da Tarifa Externa Comum (TEC) de 14% a 18%, mas sem o desconto de 40% aplicado hoje. A proposta tem aval das empresas do setor no Mercosul e será levada às negociações do acordo automotivo.

Segundo o presidente da Fiat, Cledorvino Belini, "já tem fornecedor que pegou o avião e está rodando o mundo". Na semana passada, ele sugeriu a ampliação da importação para baixar custos. Desde então, tem recebido várias cartas da China e Coréia oferecendo produtos.