Título: Em junho, Butantã já vai testar vacina em humanos
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Fonte: O Estado de São Paulo, 17/03/2006, Vida&, p. A17

Produção de 20 mil doses começa neste mês; ontem, a Roche anunciou que produzirá 33% mais Tamiflu com ajuda de 15 empresas

O Instituto Butantã vai começar a produzir ainda neste mês 20 mil doses de vacina contra o vírus H5N1, causador da gripe aviária. Entre julho e agosto, elas serão testadas diretamente em humanos e, caso seja comprovado que são capazes de dar uma resposta imunológica satisfatória, o Brasil vai iniciar a fabricação em larga escala, para deixar em estoque.

"Vamos testar em seres humanos direto, pois a vacina não é feita com vírus vivo. Queremos saber se a vacina é capaz de desencadear a produção de anticorpos", explicou Jarbas Barbosa, secretário de Vigilância em Saúde do ministério, durante evento na Academia Nacional de Medicina, no Rio, do qual também participou o ministro da Saúde, Saraiva Felipe.

Ao fazer o anúncio, Barbosa afirmou que, caso o H5N1 sofra uma mutação que permita a transmissão entre seres humanos, e essa alteração for pequena, o Brasil vai estar mais preparado para produzir uma vacina eficaz. Segundo ele, o País terá condições de produzir 90 milhões de doses contra o vírus. Além disso, o instituto será capaz de fabricar 30 milhões de doses contra a gripe sazonal - vacinas que atualmente são importadas.

O ministério também adotou outra medida de vigilância sanitária: começou um processo de licitação para a compra de dois equipamentos de raio X específicos para detectar material biológico. Eles deverão ser instalados no aeroporto internacional de Cumbica, em Guarulhos (SP), e no Tom Jobim, no Rio.

TAMIFLU

Com a ajuda de 15 novas empresas em 9 países, a Roche ampliará em um terço sua produção de Tamiflu, chegando a 400 milhões de tratamentos por ano, até o fim de 2006. Ontem, na Suíça, a companhia anunciou a escolha de novos parceiros que terão o direito de produzir o remédio, considerado uma das alternativas para frear uma eventual pandemia de gripe aviária. O Brasil, porém, foi deixado de fora, mas a filial da empresa no País aposta que pode ser escolhida para a montagem final do remédio.

Para analistas, a opção por fazer acordos com empresas foi a forma encontrada pela Roche para evitar pressões pela quebra da patente do Tamiflu. Até o início do ano, a empresa afirmava que tinha capacidade para produzir 300 milhões de doses, o que era considerado aquém das necessidades internacionais. Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), os países devem ter estoque para 25% de sua população.

Segundo William Burns, presidente da divisão Pharma da Roche, com a ampliação, a empresa já tem capacidade superior à demanda. Mais de 65 governos já fizeram seus pedidos, entre eles o Brasil. Há encomendas que visam à formação de estoques para 40% da população de alguns países.

Israel isolou granjas de perus em dois kibutzim no deserto do Neguev, em reação à suspeita de contaminação pelo H5N1. Cerca de mil aves morreram recentemente e amostras estão sendo examinadas. Um adolescente na Sérvia foi internado com sintomas da doença.