Título: Militância do PMDB chama Renan de vendido
Autor: Wilson Tosta
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/03/2006, Nacional, p. A9

Grupos de Rigotto e Garotinho se unem contra ala governista

A reunião da Executiva Nacional do PMDB, que a ala governista queria cancelar por falta de votos, acabou se transformando em ato público de apoio à realização das prévias no domingo para escolha do candidato do partido à Presidência e de ataque aos que defendem o apoio ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Cerca de 200 parlamentares, prefeitos e presidentes de Diretórios Estaduais lotaram um auditório da Câmara e gritaram palavras de ordem: "Quem dá mais, quem dá mais, o Renan vai atrás", bradavam, numa alusão ao presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), um dos principais articuladores contra a candidatura própria do partido, ao lado do senador José Sarney (AP).

Unidas em favor da consulta interna, as torcidas dos pré-candidatos Anthony Garotinho e Germano Rigotto também presentearam o presidente do partido, deputado Michel Temer (SP) com uma caixa de marmelada, numa referência jocosa à articulação dos governistas para impedir as prévias. "Brasil, ó pátria amada. PMDB sem marmelada", também gritavam os manifestantes, apesar dos apelos de Temer por moderação.

Rigotto afirmou que os governistas sentiram que não tinham como "atropelar" o desejo das bases e desistiram da articulação para derrubar as prévias. "Queremos recuperar nossa imagem, nossas bandeiras. Vamos ter cara própria, e não ficar a reboque de outros projetos", discursou sob aplausos.

Na mesma linha, Temer comemorou o fato de o encontro cancelado da Executiva ter dado lugar à "reunião festiva" com os pré-candidatos e apelou a todos para que continuassem a "pré-campanha civilizada".

Mesmo assim, Garotinho bateu: "Eles (os governistas) correram da luta. São uns derrotados, porque perderam na tese de fazer do PMDB uma sucursal do PT. Deitaram para não cair."

"DÁ TEMPO"

Sarney ainda acha possível suspender as prévias. "Até sábado dá tempo", disse o senador ontem, ao chegar à Academia Brasileira de Letras, no Rio, para o velório do escritor Josué Montello, maranhense como ele. Sarney disse ser contra uma candidatura a presidente pelo PMDB - com ou sem verticalização.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou furioso com o fiasco da operação dos governistas do PMDB para frustrar as prévias. Além da degola do líder na Câmara, Wilson Santiago (PB), substituído pelo oposicionista Waldemir Moka (MS) por ter participado da articulação fracassada, um colaborador de Lula afirma que os governistas tiveram de amargar a irritação presidencial com os dois ministros indicados pelo grupo: o senador Hélio Costa (Comunicações) e o deputado Saraiva Felipe (Saúde), que não teriam "movido um dedo" para evitar a adesão dos sete deputados de Minas à tese da candidatura própria.