Título: Em Brasília, Lula e Alckmin se comportam como inimigos cordiais
Autor: Denise Madueño
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/03/2006, Nacional, p. A8

Presidente faz questão de parabenizar adversário pela candidatura e governador elogia amabilidade

"Foi telegráfica." O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), classificou assim a primeira conversa com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva depois que foi indicado candidato tucano à Presidência. Os dois mais fortes candidatos tiveram um encontro quase formal no Supremo Tribunal Federal (STF), na cerimônia de posse do ministro Enrique Ricardo Lewandowski. E se trataram como inimigos cordiais.

Alckmin chegou por último ao tribunal, com 5 minutos de atraso e após Lula já ter chegado. O governador cumprimentou o presidente com um aceno. Lula devolveu o gesto, com um sorriso largo no rosto.

O presidente fez questão de cumprimentar o governador antes de ir embora, no fim do evento. Para isso, teve de ficar esperando por ele. Alckmin já deixava o local, quando foi chamado pelo presidente do STF, Nelson Jobim, para ir ao encontro de Lula. "Parabéns", disse o petista ao tucano, referindo-se à indicação dele como seu adversário na eleição.

"Ele foi amável. Deu os parabéns", relatou depois o governador, defendendo respeito na disputa. "Política tem de ser feita com civilidade e respeito." Pouco antes, na primeira de uma série de mais de seis entrevistas que deu ontem em Brasília, o governador resumiu como pretende fazer sua campanha para o cargo de Lula. "Não vou fazer campanha anti-Lula e anti-PT. Vou fazer campanha para frente. Projeto Brasil de crescimento", disse. "O povo quer eficiência, quer resultado. Eu represento uma nova política, acredito nela e não vou mudar."

Alckmin só falou das denúncias envolvendo o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, na sua visita ao Congresso. Ele disse que uma decisão sobre o destino de Palocci é um problema do presidente da República, que é quem tem que administrar o assunto. "Mas, se eu fosse o presidente, não deixaria (o caso) chegar ao ponto a que chegou, porque é inadmissível."

ALIANÇA

O governador afirmou que a aliança com o PFL é preferencial, mas evitou falar de vice ou de questões regionais. Ele defendeu a importância das alianças não apenas para ganhar as eleições, mas também para governar e cumprir o programa de trabalho.

Alckmin referiu-se nominalmente ao prefeito do Rio, César Maia (PFL), que havia declarado preferência pelo prefeito de São Paulo, José Serra, na disputa tucana. Ele lembrou que Maia citou recentemente a Concertação chilena como exemplo de união de partidos políticos para cumprimento de um programa de governo. "Isso é prova de maturidade", avaliou.

Sobre o PMDB, ele afirmou que o partido tinha prévias marcadas e que respeitava o partido, mas lembrou que foi do antigo MDB.