Título: Alvo em Ribeirão, ministro fica em situação delicada
Autor: Tania Monteiro, Expedito Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/03/2006, Nacional, p. A7

Diversas denúncias contra Palocci e seus ex-assessores são investigadas na cidade

Acuado pelas revelações do caseiro Francenildo Santos Costa, o Nildo, que o aponta como freqüentador da mansão do Lago Sul, o ministro Antonio Palocci, da Fazenda, é alvo de uma série de investigações em Ribeirão Preto, algumas já na reta final, outras ainda aguardando a realização de laudos periciais.

São apurações de caráter civil - nesse caso ministro não tem foro privilegiado - , que deverão servir de base a ações judiciais por improbidade administrativa. Outros inquéritos, de natureza criminal, tratam de supostas irregularidades envolvendo antigos aliados e assessores de Palocci na prefeitura de Ribeirão.

O caso da ervilha - licitação de R$ 1,2 milhão aberta em 2001 para fornecimento de cestas com latas de 330 gramas de molho de tomate refogado e peneirado com ervilhas - está próximo de chegar à Justiça. O inquérito civil tem 40 volumes.

O Ministério Público Estadual só aguarda a conclusão de uma perícia sobre o valor das compras para chegar ao tamanho do prejuízo que o negócio teria causado ao Tesouro Municipal. Palocci deverá ser apontado como um dos responsáveis pela operação. "Ele era o prefeito", destaca a promotoria.

Outro negócio sob suspeita, a venda das ações da Centrais Telefônicas de Ribeirão Preto, foi alvo de ação civil pública que a Justiça já considerou procedente em primeira instância. Palocci é réu nesse processo. A promotoria apurou que apenas 3 fundos de pensão tiveram acesso à transação, por meio de contrato de gaveta. Os envolvidos apelaram e o caso foi parar no Tribunal de Justiça, que ainda não julgou os recursos.

FANTASMA

A construção de uma ponte, que não saiu do papel, é outro caso que coloca a administração do petista na mira do Ministério Público. "Só ficou a placa da obra", destaca o promotor Aroldo Costa Filho, que integra equipe do Ministério Público encarregada de vasculhar negócios da gestão Palocci.

O Tribunal de Contas do Estado (TCE) julgou irregular o contrato que consumiu R$ 10 milhões. Inquérito civil em curso, que cita Palocci porque foi dele o projeto da ponte, indica suposto pagamento de propina a um diretor municipal. Também é citado na apuração Juscelino Dourado, ex-chefe de gabinete de Palocci no Ministério da Fazenda. Dourado era o presidente da Companhia de Desenvolvimento Econômico de Ribeirão Preto quando o projeto da ponte fantasma foi aprovado.

As dívidas da prefeitura, exercício 2002 - ano em que Palocci deixou o cargo para assumir a coordenação da campanha de Lula à Presidência -, também estão sendo verificadas pela promotoria. Naquele ano, o rombo alcançou R$ 123 milhões e por isso o TCE reprovou as contas de Ribeirão. "O rombo é muito maior", denuncia o vereador Nicanor Lopes (PSDB), que rastreia Palocci.

Na polícia, o nome do ministro é citado. Inquérito sob a presidência do delegado Benedito Valencise aponta supostas irregularidades na contratação da empresa Leão Leão, maior doadora de campanha de Palocci à prefeitura, beneficiária de pagamentos por serviços de varrição que não teriam sido realizados. "As provas de crime são cabais", afirma Valencise.