Título: Oposição vai à tribuna e pede cabeça de ministro
Autor: Cida Fontes
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/03/2006, Nacional, p. A6

Depois de apoiá-lo por três anos, Virgílio considera situação de Palocci insustentável; Simon propõe que ele saia enquanto é investigado

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, perdeu ontem formalmente o apoio do PSDB e do PFL, que em indignados discursos exigiram sua demissão. O fim do namoro, que se manteve praticamente desde o início do governo Lula, em janeiro de 2003, coincide com a escolha do candidato do PSDB à sucessão presidencial - o governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB) e o início da guerra eleitoral que começa a ser travada entre petistas e a oposição, pela sucessão presidencial.

O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), que sempre evitou a exposição do ministro na CPI dos Bingos, foi enfático: "Não vale mais o argumento de que a demissão de Palocci vai desestabilizar a economia", observou. "Sua situação chegou a um ponto insustentável."

A oposição aposta no enfraquecimento do governo com a eventual saída de Palocci, sem que isso cause turbulências à economia. Mesmo afirmando não sentir "nenhuma alegria" com a situação, Virgílio acha que a renúncia de Palocci se impõe. "Ele não tem mais condições de negociar com o BID, com parlamentares, empresários e banqueiros", afirmou. Dizendo-se decepcionado, ressaltou que várias vezes, em meses passados, enfrentou até mesmo petistas ao defender Palocci.

"Aquele que depende, para sua sobrevivência, do silêncio imposto pela força a um caseiro de 24 anos não é mais ministro", afirmou Virgílio, referindo-se à liminar concedida ao PT pelo Supremo Tribunal Federal (STF), impedindo a continuidade do depoimento do caseiro à CPI dos Bingos. "Não é mais ministro aquele que se cerca de tantas suspeitas e, a todo momento, é desmentido por motorista, por caseiro, por reportagem de jornal e se refugia nas ligações com a oposição e com segmentos importantes da vida brasileira."

O líder do PFL, senador José Agripino (RN), disse que as denúncias foram se avolumando e a oposição está apenas cumprindo sua obrigação parlamentar de cobrar do governo. "Encheu o copo, não dá mais", afirmou Agripino. "Ele é o Pinóquio do governo Lula", completou o senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT).

Outro dos críticos indignados no Senado foi Pedro Simon (PMDB-RS), que, no governo passado, se notabilizou por derrubar ministros com discursos contundentes no plenário. "Ou o ministro se afasta ou vamos nos esquecer de que na segunda-feira começa a campanha, que vai estar nas ruas com a cara do ministro", afirmou o senador gaúcho. Ele defendeu a saída de Palocci por pelo menos 30 dias, até a conclusão das investigações. "Afaste-se ministro, agora, e queira Deus que possa voltar em um mês com a imagem limpa."