Título: 'Confirmo até morrer', diz Nildo sobre denúncia
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Fonte: O Estado de São Paulo, 17/03/2006, Nacional, p. A4

Depoimento só durou 55 minutos, mas foi o suficiente para caseiro reafirmar que Palocci freqüentava mansão

Antes de ter seu depoimento interrompido ontem por uma liminar expedida pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o caseiro Francenildo Santos Costa, o Nildo, confirmou de forma contundente à CPI dos Bingos o que dissera em entrevista ao Estado: o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, freqüentava a mansão alugada em Brasília por um grupo de ex-assessores seus na prefeitura de Ribeirão Preto. "Confirmo até morrer", afirmou o caseiro à comissão. As declarações desmentem a versão apresentada à CPI por Palocci, que assegurou nunca ter ido à mansão, onde o caseiro trabalhava.

Por força da liminar, o depoimento de Nildo acabou durando só 55 minutos. Mas foi o tempo suficiente para que deixasse a sala da CPI sob aplausos.

Por iniciativa do senador Álvaro Dias (PSDB-PR), foram projetadas numa tela 12 fotos de integrantes da chamada república de Ribeirão que freqüentavam a casa. Entre outros, Nildo identificou Palocci, Rogério Buratti (secretário municipal em Ribeirão na gestão Palocci), Ademirson Ariosvaldo da Silva (secretário particular do ministro) e Juscelino Dourado (ex-chefe de gabinete no Ministério da Fazenda). Disse que tinha visto Dourado na churrasqueira da casa. Quando foi projetada a foto de Palocci, comentou: "Esse era o chefe."

O caseiro confirmou ainda ter visto na mansão dinheiro administrado por Vladimir Poleto, ex-assessor da prefeitura de Ribeirão, a quem chamou de "patrãozinho". "Vi na mala do Vladimir quando ele fazia o pagamento. Era dinheiro que forrava o fundo da mala", contou.

Antes que o caseiro começasse a falar, senadores fizeram apelos para que procurasse não abordar fatos relacionados à vida privada de Palocci. Ele tentou, mas ao responder às perguntas dos senadores teve de infringir a recomendação algumas vezes. Isso ocorreu quando disse que o ministro ia à casa se encontrar com "meninas", garotas de programa que freqüentavam a mansão. "Era sempre a menina que ficava lá com ele. O Ademirson ou o motorista deixavam ela lá e saíam."

Nildo voltou a dizer que as despesas da casa e o pagamento dos funcionários e das garotas eram custeados com dinheiro que vinha da empresa de Buratti. Reafirmou ainda ter acompanhado uma vez o motorista Francisco das Chagas até o estacionamento do Ministério da Fazenda, onde foi entregue um pacote de dinheiro para Ademirson.

Segundo o caseiro, o ministro chegava à casa dirigindo um Peugeot prata que pertencia a Ralph Barquete, ex-assessor da prefeitura de Ribeirão. "Ele chegava por volta das 6h30, 7h30, às vezes vinha com o doutor Ademirson, entravam numa sala de tevê e som e depois eu não sei o que faziam", contou.

Nildo afirmou que resolveu contar o que sabe depois que o motorista Francisco citou seu nome na comissão: "Senti que tinha de falar." Lembrou que o motorista, na mesma ocasião, já dissera ter visto Palocci na casa. E resumiu: "Sou um caseiro e o homem é o ministro da Fazenda. É a minha palavra e a do motorista contra a dele."