Título: Bolívia vai nacionalizar gás natural
Autor: Kelly Lima
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/03/2006, Economia & Negócios, p. B9

Evo Morales afirmou que decreto sairá até 12 de julho; diretor diz que Petrobrás confia nas negociações

O presidente da Bolívia, Evo Morales, afirmou que irá nacionalizar os recursos de gás natural do país até 12 de julho. "Eu me comprometo, para 12 de julho, que o povo da Bolívia terá nacionalizados seus recursos naturais", disse Morales ontem em Camiri, a sudeste de La Paz. "Os recursos naturais devem ser aproveitados pela região e pela nação, porque dão esperança aos setores mais excluídos e abandonados", acrescentou Morales, sem detalhar a medida.

O diretor de Gás e Energia da Petrobrás, Ildo Sauer, minimizou as declarações atribuídas ao presidente boliviano. Em rápida entrevista à imprensa, Sauer lembrou que "há um comprometimento mútuo das duas nações para desenvolver um grau de associação satisfatório para ambos os países, que inclui uma negociação do aproveitamento das reservas de gás bolivianas". Ele disse estar confiante de que as negociações terão andamento nos próximos dias.

Morales assumiu a presidência em janeiro, depois de vitoriosa campanha eleitoral calcada em promessas como a de nacionalizar as reservas de gás bolivianas em mãos de empresas multinacionais. Hoje, a Petrobrás é a maior empresa em atuação na Bolívia, país onde já investiu mais de US$ 1,5 bilhão nos últimos dez anos. Na época da eleição de Morales, o presidente da estatal brasileira, José Sérgio Gabrielli, chegou a assinar nota afirmando que as negociações com autoridades bolivianas "confirmam a possibilidade de entendimento, de forma a encontrar caminhos para uma convivência mutuamente profícua, sustentável e duradoura".

Segundo informou ontem Ildo Sauer, a reunião com os representantes brasileiros e bolivianos "só está dependendo da agenda de todos os envolvidos, incluindo Evo Morales, Gabrielli e o ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau". Segundo ele, após essa reunião, deverão ser formados sete grupos de trabalho e um deles vai tratar especificamente das reservas de gás boliviano. Os outros grupos deverão discutir oportunidades para a Petrobrás na Bolívia, como a colocação de biodiesel naquele mercado, investimentos no pólo gás-químico, além de complementação de recursos humanos.