Título: Fed e inflação indicam juros altos
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Fonte: O Estado de São Paulo, 22/03/2006, Economia & Negócios, p. B5

Bernanke sugere que aperto está longe do fim nos EUA e núcleo do Índice de Preços ao Produtor cresce 0,3%

NOVA YORK

O discurso do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), Ben Bernanke, e um aumento acima do previsto do núcleo da inflação ao produtor indicam que o juro básico vai continuar subindo nos próximos meses, previram vários analistas.

"Um movimento para uma taxa de 5% ao ano é muito provável", disse o economista-chefe do banco de investimentos Lehman Brothers, Ethan Harris. O economista Jim O'Sullivan, do grupo financeiro UBS, ressaltou que Bernanke não fez nenhum esforço para desencorajar a idéia de que haverá novas altas. Essas expectativas derrubaram as Bolsas em todo o mundo.

Na noite de segunda-feira, Bernanke admitiu a um grupo de economistas que "há alguns riscos lá fora" para os consumidores, que se originam, principalmente, do mercado imobiliário. Mas ele disse esperar que os gastos dos americanos continuem suficientemente fortes para manter o crescimento da economia.

Bernanke não deu nenhum sinal explícito sobre o rumo do juro básico, confirmando as expectativas. O Fed se reúne na próxima semana, nos dias 28 e 29, quando a taxa básica deverá subir de 4,50% para 4,75% ao ano.

A inflação divulgada ontem também fortaleceu a perspectiva de novas altas.

O Índice de Preços ao Produtor (PPI, da sigla em inglês) de fevereiro recuou 1,4%, a maior queda em quase três anos. Mas o núcleo do PPI, que não leva em conta os preços de alimentos e energia, considerados muitos voláteis, subiu 0,3%. Os economistas previam que alta do núcleo fosse de só 0,1%.

Eles dão mais atenção a essa parte do índice, pois a consideram um indicativo melhor do rumo da economia americana. "Isso certamente vai aumentar um pouco o medo da inflação", explicou o investidor-chefe da Wells Capital Management em Minneapolis.

A queda do PPI cheio foi motivada, principalmente, pelo recuo dos preços da gasolina, embora os custos fora do grupo de energia tenham subido acima das expectativas.

PAÍSES EMERGENTES

Segundo analistas europeus, o ambiente nos mercados internacionais está confuso. Mas por enquanto, a perspectiva para os países emergentes continua boa.

Eles ressaltam que para determinar qual o grau de volatilidade dos papéis dos emergentes será preciso observar os indicadores econômicos e declarações de autoridades dos EUA, Europa e Japão sobre mais apertos monetários. "Bernanke indicou que os juros podem continuar a subir mais do que muita gente previa. Não chegou a ser um susto, mas aumentou o estado de alerta dos mercados", disse a estrategista do fundo Insight Investments, Ingrid Iversen. Ela observou que ontem o impacto nos ativos dos emergentes foi mínimo. "Se não esquecermos o quanto esses ativos se valorizaram nos últimos tempos e compararmos com volatilidades que vimos no passado, praticamente não houve impacto nenhum."

Mas ela prevê que, diante de um ambiente de maior aversão ao risco, a euforia com os emergentes deve dar lugar a um posicionamento mais seletivo. "Cada vez mais as pessoas vão analisar país por país para decidir suas alocações de recursos."

O estrategista de outro grande fundo de investimentos da City londrina disse que Bernanke "reforçou o clima esquisito" que domina os mercados. "Antes, o pessoal pensava que seria mais uma alta de juro nos EUA, e acabou. Agora, podem ser mais duas altas, ou talvez até três."