Título: Brasil tem o maior saldo em conta corrente para o mês de fevereiro
Autor: Fabio Graner, Gustavo Freire
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/03/2006, Economia & Negócios, p. B4

Superávit foi de US$ 725 milhões, depois de um déficit de US$ 452 milhões registrado em janeiro

O Brasil conseguiu, em fevereiro, saldo positivo na conta de transações correntes do balanço de pagamentos, que abrange as operações de exportação, importação, serviços e rendas com o exterior. O superávit foi de US$ 725 milhões. O resultado, divulgado ontem pelo Banco Central, foi o melhor da série histórica, iniciada em 1947, para o mês de fevereiro.

Em janeiro, essa conta fechou negativa em US$ 452 milhões, rompendo a seqüência de 13 meses seguidos de superávits e causando apreensão quanto à possibilidade de mudança de tendência. Em fevereiro de 2005, a conta corrente teve superávit de US$ 130 milhões.

Na soma dos primeiros 2 meses do ano, as transações correntes apresentam saldo positivo de US$ 273 milhões, correspondente a 0,21% do Produto Interno Bruto (PIB) do período. Nos 12 meses encerrados em fevereiro, o superávit é de US$ 13,540 bilhões (1,69% do PIB).

O resultado de fevereiro ficou acima do projetado pelo chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, de um saldo próximo de zero. Segundo ele, isso não ocorreu porque, enquanto o resultado da balança comercial ficou dentro do previsto (US$ 2,822 bilhões de superávit), as remessas de lucros e dividendos foram menores que o esperado, de US$ 829 milhões, ante US$ 1,348 bilhão em fevereiro de 2005 e US$ 1,5 bilhão em janeiro deste ano.

"As remessas dão sinais de acomodação, mas ainda é preciso esperar para confirmar se essa realmente é uma tendência", disse Lopes.

'NOTÍCIA BOA'

O estrategista Alexandre Lins, do Banco BNP Paribas, considerou positivo o menor volume de remessas para o exterior. "Essa acomodação das remessas é uma notícia boa", afirmou. Ele avaliou que o superávit na conta corrente em fevereiro eliminou uma ansiedade do mercado, após o déficit de janeiro. "Se no mês passado tivéssemos outro resultado negativo na conta corrente, o mercado começaria a alterar seus cenários para o setor externo", afirmou.

Lins ponderou que, de qualquer forma, o resultado dessa conta será bem mais fraco que em 2005 (superávit de US$ 14,2 bilhões). A projeção do BC para este ano é de saldo positivo de US$ 8,6 bilhões.

Para o economista, o menor ingresso de dólares pela conta corrente ao longo do ano será compensado pelo fluxo maior na conta capital e financeira, que registra os investimentos - produtivos ou financeiros. Ele destacou a entrada de recursos para investimentos em ações e renda fixa, que somaram US$ 4,358 bilhões em fevereiro, ante US$ 3,450 bilhões em fevereiro de 2005 e US$ 3,134 bilhões em janeiro.

Nos investimentos estrangeiros diretos (IED) ainda não houve uma mudança de tendência, embora o BC acredite em aceleração. O ingresso de dólares por essa conta somou no mês passado US$ 859 milhões, valor praticamente estável em relação ao mesmo mês de 2005. Nos 12 meses encerrados em fevereiro, o IED foi de US$ 15,468 bilhões (1,93% do PIB). No ano, o total é de US$ 2,362 bilhões (1,81% do PIB do período).

Para atingir os US$ 18 bilhões projetados pelo BC para este ano, os IEDs deverão, a partir deste mês, ter um fluxo mensal de US$ 1,5 bilhão. Mesmo esperando para março entradas de US$ 1,2 bilhão, Altamir Lopes acha que sua estimativa para o ano será atingida. "Não está dando, mas vai dar."

Contabilizando as entradas e saídas de dólares pelas contas corrente, capital e financeira, a entrada líquida de recursos no Brasil em fevereiro foi de US$ 769 milhões, que foram incorporados às reservas internacionais do País.

No acumulado do ano, o resultado global do balanço de pagamentos rendeu para as reservas brasileiras US$ 3,46 bilhões.