Título: Revisão nas previsões externas
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Fonte: O Estado de São Paulo, 22/03/2006, Economia & Negócios, p. B2

As contas externas de fevereiro apresentaram resultados melhores do que se esperava, com um superávit em transações correntes (c/c) de US$ 725 milhões e um aumento das reservas de US$ 769 milhões. O superávit acumulado nos dois primeiros meses do ano é equivalente a 1,69% do PIB, o que nos assegura uma posição tranqüila na área externa.

Com esses resultados, o Banco Central (BC) reviu suas projeções para 2006, elevando a do superávit em transações correntes de US$ 6,1 bilhões para US$ 8,6 bilhões. É interessante analisar as razões desse otimismo do BC. Sem dúvida é o superávit da balança comercial que tem a maior responsabilidade nisso, ao acusar crescimento de US$ 3,5 bilhões, o que permite prever que a taxa cambial, intimamente influenciada pelas entradas do saldo comercial, deverá manter-se valorizada, embora, pelas previsões do BC, as exportações devam aumentar US$ 43,5 bilhões (em relação às do ano passado) e as importações, cuja previsão feita em janeiro não sofreu revisão, cresçam US$ 15,4 bilhões em relação ao ano passado.

Cumpre notar que, na estimativa do BC, as amortizações de médio e longo prazos poderão aumentar em US$ 7,2 bilhões, compensadas por um aumento no ingresso da conta capital de US$ 4,8 bilhões. Essas estimativas são úteis para orientar os meios financeiros.

Mas, ainda nos dados de fevereiro, em relação aos de janeiro, merece atenção especial o saldo da balança comercial, essencialmente produzido por um crescimento das exportações conjugado com ligeira redução das compras externas, que se explica pela menor quantidade de dias úteis.

O mês de janeiro havia acusado um forte déficit no item lucros e dividendos, cujo saldo líquido mostra, em fevereiro, redução de 89,3% em relação ao mês anterior, embora as remessas sejam sempre muito elevadas no primeiro mês do ano. As despesas com juros apresentam redução de 30,5% em relação a janeiro, também em razão de fatores sazonais. O déficit da conta de serviços teve um crescimento de 40,1%.

Também o movimento financeiro registrou em fevereiro um saldo negativo de US$ 240 milhões, ante um superávit de US$ 3 bilhões em janeiro. A diferença se deve às saídas de investimentos em carteira, que são sempre mais sensíveis às flutuações internacionais. Os investimentos estrangeiros diretos (IED), que haviam somado US$ 1,4 bilhão em janeiro, diminuíram para US$ 1,2 bilhão em fevereiro, por conta, basicamente, do menor número de dias úteis no segundo mês.

Mesmo que o mercado financeiro internacional acuse flutuações, as contas externas do Brasil continuarão confortáveis. Revisão nas previsões externas