Título: PT transfere ao governo defesa de ministro
Autor: Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/04/2006, Nacional, p. A5

Escaldado com a derrocada do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, o PT quer manter distância dos desdobramentos da crise provocada pela violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa, o Nildo, que agora ameaça o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. Os petistas serão solidários, mas não assumirão sua defesa como assunto do partido. O ministro disse a um parlamentar na semana passada, conforme revelou o Estado, que petistas inconformados com sua influência sobre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com a autonomia da Polícia Federal nas investigações estariam por trás da movimentação para tirá-lo do posto.

"Isso é inimaginável", reagiu ontem o presidente do PT, Ricardo Berzoini. "O PT tem o maior apreço pelo ministro Márcio Thomaz Bastos e por sua atuação." Segundo o deputado, "não há nenhuma rusga" entre o partido e o ministro, que não é filiado. "O PT defende a permanência de Bastos e seu trabalho à frente do ministério."

Integrantes da Executiva Nacional do PT, entretanto, deixaram claro ontem que cabe ao ministro esclarecer sua participação e ao governo contornar a crise, não ao partido. "O PT tem é que cuidar da campanha à reeleição. A oposição quer nos imobilizar. Fazer mais do que afirmar nossa solidariedade é fazer o jogo da oposição", resumiu um dirigente.

"É melhor o PT não se meter", atestou um secretário da legenda. "O governo não pediu opinião ao partido no começo da crise e não é agora que vai pedir."

Ao contrário do que fez com Palocci, não está nos planos da direção petista divulgar nenhuma nota oficial em defesa de Bastos. Ao menos por enquanto.

IMPEACHMENT

Animados com o desempenho de Lula nas pesquisas de intenção de voto e de avaliação do governo, o comando petista não acredita que a turbulência que paira sobre Bastos possa dar força à defesa do impeachment de Lula. "A hora de tentar o impeachment já passou", afirmou o secretário. "Agora, com o novo salário mínimo no bolso do trabalhador, então, não há o menor clima para tentar derrubar o Lula."

O líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), disse ontem não acreditar que membros do partido estejam por trás do bombardeio ao ministro. Questionado sobre as queixas de Bastos, afirmou que, supostamente, ele pode ter se referido a petistas que tenham tido efetiva participação na violação do sigilo. "Temos feito a defesa do ministro normalmente."