Título: Caracas, capital mundial da esquerda
Autor: Juan Forero
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/03/2006, Internacional, p. A16

Antagonismo de Chávez tem atraído estudantes, celebridades, acadêmicos, ativistas, avós e hippies dos anos 70

O ator Danny Glover veio. Harry Belafonte também já esteve aqui. O mesmo para a ativista pacifista Cindy Sheehan, a eminente escritora negra Cornel West e o novo presidente da Bolívia, Evo Morales.

Mas a maioria dos visitantes é como Cameron Durnsford, um estudante de 24 anos da Austrália que decidiu estudar em uma nova universidade financiada pelo governo em Caracas.

Durnsford reconheceu estar um pouco confuso com o culto à celebridade do presidente venezuelano, Hugo Chávez, que, diz ele, "parece um pouco maoísta". Mas a revolução da Venezuela, acrescenta rapidamente, não é coisa para se perder.

"Você tem uma nação e um líder tentando provar uma alternativa ao neoliberalismo e às políticas que devastaram a América Latina por 20 anos", disse Durnsford. "É por isso que as pessoas estão vindo para cá. Há um sentimento de que este é um momento histórico."

Chávez é decididamente impopular entre os membros da administração do presidente americano, George W. Bush, cujo governo ele tem classificado de regime terrorista disposto a derrubá-lo.

Esse antagonismo, combinado com os enormes gastos sociais com o dinheiro do petróleo que Chávez tem feito, está atraindo seguidores de todas as partes e transformando Caracas numa nova meca esquerdista.

Evocando outras cidades transformadas por líderes revolucionários como Manágua, na Nicarágua, em 1979, ou Havana 20 anos antes disso, Caracas está atraindo estudantes e celebridades, acadêmicos e ativistas, avós e hippies dos anos 70 - uma nova geração de "sandalistas", como alguns os chamam. "Sandalista", uma associação jocosa entre sandália e sandinista, é como certos meios apelidaram pejorativamente os estrangeiros que iam à Nicarágua em apoio à revolução sandinista.

Alguns, até mesmo muitos americanos, vieram para ficar. Mas outros vêm por uma nova marca de turismo revolucionário organizado pelo governo ou por grupos privados. A Venezuela acolhe todos, mas estende o tapete vermelho para visitantes célebres como Harry Belafonte, o cantor e ativista, hoje com 79 anos. Em janeiro, ele chefiou uma delegação americana que incluiu Glover, West e Dolores Huerta, a advogada de agricultores. Eles se encontraram com Chávez, fizeram uma visita a um bairro para conversar com venezuelanos e visitaram programas governamentais promovidos como uma maneira de transferir a riqueza de petróleo do país para os pobres.

"Nós o respeitamos, o admiramos, e estamos expressando nossa inteira solidariedade ao povo venezuelano e sua revolução", disse Belafonte a Chávez durante o programa semanal de rádio e TV do presidente venezuelano.

Ele chamou o presidente Bush - um alvo constante das farpas de Chávez - de "o maior terrorista do mundo". E terminou gritando: "Viva a revolução!"

Entre outros visitantes recentes estavam o reverendo Jesse Jackson; Ollanta Humala, o candidato que lidera as pesquisas para as eleições presidenciais de 9 de abril no Peru; o escritor uruguaio Eduardo Galeano; e o Prêmio Nobel da Paz argentino Adolfo Pérez Esquivel.