Título: Alckmin reage a denúncia do PT e nega pagamento a acupunturista
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/04/2006, Nacional, p. A7

"O governo do Estado nunca pagou um só centavo ao médico acupunturista Jou Eel Jia para que ele ministrasse cursos" mediante convênios com a Secretaria de Educação, afirmou ontem, em nota, o ex-governador Geraldo Alckmin. A nota rebate denúncia do PT de São Paulo de que o médico, amigo de Alckmin, teria sido beneficiado. A secretaria pagou apenas passagens e diárias dos professores atendidos pelo convênio, diz a nota.

Ontem surgiu uma nova denúncia: Thomaz, filho de Alckmin, e Suellen, filha de Jou, são sócios na empresa Eco Ervas, que forneceria ervas importadas para a "cerimônia do chá", no Spa Chan Tao, em Jundiaí, de propriedade do acupunturista, revelou O Globo. A nota de Alckmin diz que a sociedade na empresa nada tem que ver com o convênio e assegura que as ervas usadas nas terapias aplicadas do Chan Tao são plantadas na própria fazenda que abriga o spa.

Segundo a denúncia feita pelo PT, o convênio remunerava Jou pelos cursos ministrados e 864 professores fizeram o curso no spa, que teria sido favorecido pelo pagamento de diárias elevadas, quitadas com cartões de crédito corporativos do governo paulista. A nota de Alckmin nega tudo: informa que Jia não recebeu nada pelos cursos e ainda custeou viagens dele e da equipe; que, dos 29 mil professores capacitados nos convênios, 864 fizeram o curso no spa porque são "multiplicadores"; e que nada foi pago com os cartões.

A nota afirma que a relação entre o Estado e a Associação de Medicina Chinesa Tradicional (AMCT), de Jia, "é tão transparente que as 'denúncias' feitas pela oposição" têm por base relatórios do próprio governo. E rotula a nova denúncia de "maldosa", porque o convênio é de 2003 e a empresa de Thomaz e Suellen começou em 2004. Por fim, explica anúncios do governo do Estado na revista Chan Tao, da AMCT: a revista também tem anúncios de empresas privadas.

SPA E CONVÊNIO

Há quatro anos, Jia, que comanda uma reputada clínica de acupuntura em São Paulo, construiu, com um sócio, o sofisticado Spa Chan Tao numa fazenda próxima da serra do Japi, em Jundiaí. Nos primeiros anos, o empreendimento funcionou como "clube" de sua clínica, já que a prefeitura do município não concedia alvarás para hotéis e spas em zona rural. O sócio acabou deixando a empresa e Jia herdou problemas financeiros, porque o hotel, sem alvará, tinha pequena freqüência.

Jia planejou o convênio para treinar professores estaduais em técnicas de relaxamento e meditação, com base no ch'an (zen, em japonês), um conjunto de práticas meditativas do budismo chinês que, segundo os conhecedores, ampliam as estados de consciência trabalhando a percepção, a concentração e a atenção. Numa conversa, o propôs a Alckmin, que aprovou a oferta.

O convênio com o Estado era uma reprodução de outro instrumento, que ele mantém com a Prefeitura de São Paulo desde 1988, firmado na gestão da então petista Luiza Erundina, e renovado por todas as gestões seguintes.

O convênio com a Prefeitura foi feito para capacitar médicos do serviço público em acupuntura. Os cursos são ministrados no Hospital do Servidor Público Municipal e este ano, forma-se a 18ª turma, desde 1988. A dotação para o convênio é de R$ 1.044.000, equivalente a 1,06% do gasto total anual da secretaria com cursos de capacitação de professores.

Em dezembro de 2005, a Secretaria de Educação de Pernambuco convidou Jia para implantar o convênio semelhante no Estado. Ele foi a Recife e deu um curso piloto, que foi muito bem avaliado pelos professores de educação física, disse ao Estado o secretário de Educação de Pernambuco, Mouzart Ramos. Por causa da boa receptividade, agora Jia dará cursos de meditação para todos os professores estaduais.