Título: Na Itália, 66,5% votam no 1º dia
Autor: Reali Júnior
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/04/2006, Internacional, p. A9

Mais de 66% dos eleitores italianos foram às urnas ontem, no primeiro dos dois dias das eleições gerais que decidirão se o primeiro-ministro de centro-direita Silvio Berlusconi continuará no poder ou será substituído pelo centro-esquerdista Romano Prodi. Ao todo, 66,5% dos eleitores votaram ontem. Nas eleições de 2001, quando a votação ocorreu em apenas um dia, 81,4% foram às urnas.

Um grande comparecimento é considerado crucial para uma vitória de Berlusconi. Sua coalizão, a Casa da Liberdade, espera um comparecimento superior a 80% - num país onde o voto não é obrigatório - para poder imaginar uma vitória de Berlusconi. Se a porcentagem for inferior a 80%, os dirigentes da Casa da Liberdade já admitem que poderão ser derrotados. Como a campanha se transformou num referendo sobre a permanência ou não de Berlusconi, eles acreditam que isso poderá contribuir para mobilizar maciçamente o eleitorado.

O dia de ontem não esteve livre das polêmicas que marcaram a campanha. Ainda no período de reflexão do eleitorado, pouco antes da abertura do processo de votação, os responsáveis pela campanha de Berlusconi inundaram os telefones celulares dos italianos com mensagens de texto (SMS) de propaganda anti-Prodi, violando a legislação eleitoral. Isso levou a aliança de centro-esquerda a enviar um protesto ao órgão controlador da privacidade dos usuários da telefonia - que, por sua vez, alertou a Justiça sobre mais essa iniciativa dos dirigentes da Casa da Liberdade.

Apesar disso, a utilização indevida desse instrumento de propaganda política contra Prodi prosseguiu, só cessando quando a votação foi iniciada.

Os responsáveis pela campanha de Berlusconi pretenderam se justificar dizendo que essa era uma atitude isolada de seus partidários, sobre os quais não exerciam nenhum controle, e não tinham nenhuma responsabilidade sobre essas mensagens de texto. O próprio Romano Prodi, em Bolonha, onde votou, reagiu indignado contra essa ruptura do silêncio via SMS. Durante a campanha, Berlusconi foi condenado a pagar duas multas por violação das regras eleitorais, num total de 400 mil. Outro protesto da aliança opositora foi contra a publicação, na edição de ontem da Gazzetta dello Sport, o principal jornal esportivo do país, de uma foto de página inteira na qual Berlusconi aparece comemorando com os jogadores do Milan um dos títulos conquistados como presidente do clube.

Apesar dessas artimanhas, os dirigentes da aliança de Prodi, A União, mostravam-se ontem convencidos da vitória. Favorito nas pesquisas, Prodi era o mais cotado também nas casas de apostas de Londres. Mas permanecia o ponto de interrogação por causa dos indecisos - que, segundo as sondagens pré-eleitorais, chegavam a 15% dos quase 50 milhões de eleitores.

A favor de Prodi contavam as freqüentes derrapagens verbais de Berlusconi, principalmente nas horas que precederam o encerramento da campanha, em razão de pesquisas eleitorais desfavoráveis. Uma dessas derrapadas foi ter chamado de "coglioni" os partidários de Prodi. Trata-se de um termo vulgar que significa literalmente "testículos" e pode ser traduzido como idiota ou frouxo.

As eleições renovarão a composição da Câmara dos Deputados (630 cadeiras) e do Senado (315 assentos elegíveis; há 7 senadores vitalícios) para os próximos cinco anos.

VOTAÇÃO NO EXTERIOR

O comparecimento às urnas dos italianos que vivem no exterior foi de 42,7%. O recorde foi da América Latina, com 51,81%. A Argentina surge como primeiro colégio eleitoral do continente, seguida do Brasil. Na Europa (fora a Itália) o comparecimento foi de 38,4% e nos EUA, 37,3%. Esse foi um fim de semana de muito sol em toda a Itália e muitos italianos deixaram para votar no fim da tarde e na noite de domingo.

O processo de votação foi interrompido às 22 horas locais de ontem, prosseguindo a partir das 7 horas de hoje. Como os eleitores italianos poderão votar até as 15 horas, quando serão anunciados os primeiros resultados, haverá tempo suficiente para cumprir seu dever cívico. Um dos primeiros a votar foi o presidente Carlo Azeglio Ciampi, muito aplaudido quando chegou, acompanhado de sua mulher, a sua seção eleitoral em Roma, às 8h30.