Título: Fluxo de gás se normaliza em 5 dias
Autor: Nicola Pamplona
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/04/2006, Economia & Negócios, p. B3

A Petrobrás espera restabelecer, em até cinco dias, o fluxo de gás natural boliviano para o Brasil, que foi reduzido semana passada em razão do rompimento de um duto no país vizinho. A empresa iniciou anteontem os reparos no duto danificado e a expectativa é que não haja necessidade de corte de fornecimento do combustível para distribuidoras de gás canalizado das regiões Sul e Sudeste, como previa o plano de racionamento anunciado na sexta-feira pelo Ministério de Minas e Energia (MME).

A retomada das obras só foi possível porque o governo boliviano conseguiu pôr fim ao bloqueio de estradas realizado desde o início da semana por moradores da região afetada pelas chuvas. Ontem, por volta do meio-dia, os manifestantes iniciaram a retirada dos veículos que impediam o trânsito em uma das principais estradas do sul do país, permitindo o acesso à tubulação, que transporta o condensado (tipo de óleo) produzido com o gás nos campos de San Alberto e San Antonio.

Segundo a estatal, estão sendo empregados todos os esforços para retomar, o mais rápido possível, o fluxo normal de importações de gás boliviano, que girava em torno dos 26 milhões de metros cúbicos por dia antes do acidente e foi reduzido em 20% já a partir de quinta-feira passada. O plano de racionamento elaborado pelo MME previa a redução do fornecimento para térmicas, refinarias e, em última instância, para as distribuidoras estaduais de gás canalizado, com um limite de 12% do volume contratado. A expectativa do mercado era que os cortes fossem iniciados a partir de amanhã. Agora, o governo espera que, se o trabalho de recuperação dos dutos bolivianos não tiver mais imprevistos, o racionamento não chegue a atingir as indústrias. Neste fim-de-semana, distribuidores e consumidores já começaram a discutir como seriam os cortes, em negociações que deveriam se intensificar a partir de hoje. Um dos maiores desafios é definir quem vai pagar a conta caso seja necessário migrar para outros combustíveis mais caros, como gás liquefeito de petróleo (GLP), o gás de cozinha, ou óleo diesel. Por meio de sua assessoria de imprensa, a Petrobrás afirmou que não teve responsabilidade no episódio, reposndendo a críticas feitas anteontem pelo secretário de energia, indústria naval e petróleo do Rio, Wagner Victer, para quem houve imprevidência na condução do problema. Primeiro, foram as fortes chuvas no sul da Bolívia, que provocaram o rompimento do duto; depois, manifestações populares impediram o acesso ao local, explicou a companhia.

Três municípios da região pedem direitos sobre uma área conhecida como Chimeo, sede do campo de gás Margarita, segunda maior reserva boliviana. Desde o início da semana, moradores bloquearam a estrada com cerca de 500 caminhões e ônibus para forçar uma manifestação do governo central da Bolívia. Anteontem, o vice-ministro de Descentralização, Fábian Yáksic, garantiu que o pleito será analisado em 30 dias, em troca do fim dos protestos.