Título: 'Tropas não saem antes de 2009'
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/03/2006, Internacional, p. A15
Bush admite que decisão sobre retirada do Iraque ficará para seu sucessor e enfatiza que Rumsfeld fica no cargo
O presidente George W. Bush admitiu ontem, pela primeira vez, que tropas dos EUA ainda estarão no Iraque ao final de seu mandato, em janeiro de 2009, afirmando que a decisão sobre a retirada caberá "a futuros presidentes e líderes iraquianos". O reconhecimento de que o engajamento americano no Iraque seguirá por tempo indeterminado - a despeito de indicações em contrário dadas nos últimos meses por militares e porta-vozes de seu governo -, em nada facilitará o esforço iniciado por Bush, semana passada, para reverter a vertiginosa queda do apoio da opinião pública à guerra. Essa queda se reflete em pesquisas que indicam sua popularidade abaixo dos 40% - o pior nível desde que chegou à Casa Branca.
Falando ao país em sua segunda entrevista coletiva este ano, Bush reconheceu que há um forte ceticismo do público em relação à guerra e o efeito negativo que este provoca entre seus correligionários republicanos no Congresso, que concorrerão nas eleições legislativas de novembro. Muitos conservadores têm se distanciado da Casa Branca, como fizeram no episódio da concessão de serviços portuários para uma estatal árabe, de Dubai, por temerem que a impopularidade do presidente contamine suas chances de reeleição. Bush disse que é natural que o conflito crie "uma certa inquietação num ano eleitoral. Ninguém gosta de guerra, ela crie um sentimento de incerteza no país".
O presidente reafirmou, no entanto, as razões da invasão do Iraque e deixou claro que a falta de apoio popular à guerra, que já custou a vida a mais de 2.300 soldados americanos, deixou mais de 10 mil mutilados e fez incontáveis vítimas entre os iraquianos, não o fará mudar de curso. Ele reafirmou sua fé na vitória contra o terrorismo, repetindo o bordão dos vários discursos que fez e que continuará a fazer nos próximos dias para impedir que as críticas crescentes dos opositores da guerra marcassem a passagem - na segunda-feira - do terceiro aniversário da invasão do Iraque. Bush reiterou também sua confiança no secretário de Defesa, Donald Rumsfeld, e descartou a possibilidade de sua saída.
No domingo, o general reformado Paul D. Eaton , que comandou o programa de treinamento de soldados iraquianos em 2003 e 2004, pediu a renúncia de Rumsfeld em artigo no New York Times, alegando que o secretário da Defesa "mostrou-se incompetente nos pontos estratégico, operacional e tático e é responsável, mais que qualquer outra pessoa, pelo que aconteceu com nossa importante missão no Iraque". "Não creio que ele deva renunciar", disse Bush. "Ele está fazendo um bom trabalho e todo plano de guerra parece ser bom no papel até que você confronta o inimigo".
Bush tentou mudar de assunto, destacando o crescimento da economia, a nomeação de dois juízes conservadores para a Suprema Corte e outros temas domésticos. Ele foi lembrado, porém, de que seu principal objetivo de política interna - a privatização parcial da previdência federal - não decolou.