Título: Lula pede a Renan que acalme os ânimos
Autor: Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/03/2006, Nacional, p. A5

Presidente do Senado tenta conter a crise e desviar o foco de Palocci

Preocupado com o agravamento da crise, depois das denúncias do caseiro Francenildo Santos Costa contra o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva convocou o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para uma conversa reservada na noite de segunda-feira.

Segundo um petista com trânsito no Planalto, além de ouvir Renan sobre o PMDB e a candidatura presidencial de Anthony Garotinho, Lula fez um apelo para que o senador ajude a acalmar os ânimos no Senado, onde os líderes da oposição insistem em derrubar o ministro.

O mesmo petista afirma que não é a solidariedade que explica a ofensiva de ministros e do PT em favor da manutenção de Palocci no cargo. Segundo o parlamentar, setores do governo e do partido acreditam que a crise está se aproximando muito do gabinete presidencial e temem o efeito negativo dela sobre o desempenho de Lula nas pesquisas eleitorais.

Eles avaliam que Palocci se indispôs demais com o Ministério Público de São Paulo e precisa do cargo para manter o foro privilegiado de julgamento. "Fora do governo, Palocci toma uma prisão temporária e as imagens fortíssimas dessa prisão na campanha vão derrotar Lula", resume o petista.

Diante do apelo presidencial para pacificar governo e oposição no Congresso, Renan começou a trabalhar cedo. Pela manhã, recebeu em seu gabinete o senador petista Tião Viana (AC); o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), e o líder do governo no Congresso, senador Fernando Bezerra (PMDB-RN), além de conversar com a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC).

Ele conseguiu fazer com que Ideli desistisse de requisitar as fitas com as gravações das câmeras que monitoram o Senado. Ela queria provar que, antes de depor na CPI dos Bingos, o caseiro visitou parlamentares da oposição como o senador Antero de Barros (PSDB-MT). Em encontros reservados, ele tem repetido que a crise está ganhando contornos de luta sangrenta e paralisando o Congresso.

E tratou de reunir os líderes partidários no início da tarde. Depois dos apelos para que aliados e adversários do Planalto baixem o tom e retomem o diálogo, ele convocou os líderes para tentar estabelecer uma pauta de votação e sair da agenda da crise. Afinal, há quase um mês o Senado não vota nenhuma matéria importante.

Na conversa com Lula, Renan também falou das chances de a candidatura própria do ex-governador do Rio Anthony Garotinho vingar. Como Garotinho foi sagrado candidato com apenas 38% dos votos peemedebistas e as prévias foram barradas pela Justiça, a consulta interna não tem valor jurídico. Esta é a melhor notícia para os governistas do PMDB e o Planalto, que não quer que a candidatura própria do PMDB arraste a disputa presidencial a um segundo turno.

Se Garotinho tivesse sido escolhido candidato em prévias, seria preciso reunir a convenção nacional e obter o apoio de pelo menos dois terços dos convencionais para derrubar a candidatura. Como o partido realizou apenas uma consulta, bastará reunir maioria simples (metade mais um dos votos) na convenção nacional de junho para derrubar a candidatura.