Título: PF vai intimar assessores do ministro
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/03/2006, Nacional, p. A4

Avaliação é de que Caixa sabe quem violou sigilo, mas o está protegendo

A Polícia Federal atribui à Caixa Econômica Federal a violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo Santos Costa, acredita que a direção da instituição já sabe o nome do responsável pelo crime - que tem senha com nível de gerente - e desconfia que o culpado esteja sendo protegido.

A Caixa é subordinada ao Ministério da Fazenda, cujo titular é Antonio Palocci, alvo das revelações do caseiro. A PF tem convicção de que a direção da instituição já sabe o nome do servidor que violou o extrato de Nildo e a mando de quem, mas estaria protegendo o responsável. A Caixa abriu sindicância para investigar as responsabilidades e repele todas essas insinuações.

INTIMAÇÕES

Por determinação do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, a Polícia Federal abriu ontem inquérito para apurar o caso e deve fazer ainda hoje as primeiras intimações, incluindo assessores da Caixa e de Palocci citados como envolvidos ou conhecedores do episódio.

A Polícia Federal pretende pedir à Justiça autorização para realizar buscas e apreensões na Caixa. Um dos objetivos é apreender o computador usado pelo servidor do banco e submetê-lo a perícia.

Nildo foi quem revelou, em entrevista ao Estado, a presença constante de Palocci na mansão do Lago Sul alugada por lobistas da chamada república de Ribeirão Preto, em que trabalhava como caseiro.

Palocci nega que tenha colocado os pés na mansão - onde eram realizadas reuniões de lobby e festas com garotas de programa.

No momento em que prestava esclarecimentos sobre o caso à PF, na noite de quinta-feira, um funcionário da Caixa, com senha de gerente, acessou o sistema e retirou o extrato da poupança de Nildo, na qual apareciam depósitos altos para um caseiro.

Os dados da conta, cujo sigilo foi violado sem autorização judicial, apareceram publicados na revista Época do fim de semana. Por não configurar crime a divulgação, mas a quebra do sigilo e o vazamento - a revista e os jornalistas que assinam a reportagem não serão investigados.

O inquérito será comandado pelo delegado Rodrigo Carneiro Gomes, da Diretoria de Combate ao Crime Organizado (DCOR). Um dos auxiliares mais próximos do diretor-geral da PF, Paulo Lacerda, Gomes teve passagem pela corregedoria, órgão que fez uma faxina nos quadros da corporação nos últimos anos.

Como em outras ocasiões, Gomes vai investigar também se houve a participação de policiais federais no episódio.

TRANSPARÊNCIA

Também ontem, o ministro da Justiça pediu ao procurador-geral da República, Antonio Fernando Barros, a designação de um integrante do Ministério Público para acompanhar todos os passos da apuração. O objetivo, segundo informou a assessoria de Thomaz Bastos, é dar transparência, agilidade e isenção às investigações do caso.