Título: Caixa admite que devassa pode ter sido ação interna
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/03/2006, Nacional, p. A4

Dirigentes eliminaram possibilidade de acesso ter ocorrido via internet, mas pediram 15 dias para concluir sindicância

O comando da Caixa Econômica Federal (CEF) admitiu ontem, diante de três senadores integrantes da CPI dos Bingos, que o extrato da conta do caseiro Francenildo Santos Costa divulgado pela revista Época pode ter saído de dentro do próprio banco, num gesto praticado por algum funcionário de nível de gerência. Os senadores Álvaro Dias (PSDB-PR), Flávio Arns (PT-PR) e Wellington Salgado (PMDB-MG) estiveram no edifício-sede da Caixa, onde foram recebidos por seu presidente, Jorge Mattoso, e oito diretores.

Coube a Dias fazer um relato do encontro. Contou que ele próprio levou para a reunião uma cópia do extrato bancário do caseiro. Ao analisar o documento, os dirigentes da Caixa eliminaram a possibilidade de o documento ter sido retirado em alguma máquina de auto-atendimento ou pelo serviço de internet banking. "Eles alegaram que precisam ter acesso ao original do extrato para poder dar início à investigação", disse Dias. "Mas ficou claro, pelo simples exame da cópia, que ela não foi obtida através do auto-atendimento ou via internet. O extrato foi fornecido através de uma gerência."

Mattoso pediu a colaboração da CPI para ter acesso ao documento original. "Ele disse que solicitou à revista o envio do extrato e nós da CPI vamos ajudar a Caixa", afirmou Dias. De acordo com o senador, hoje mesmo será levado a votação na comissão parlamentar de inquérito um requerimento pedindo o extrato original, que seria remetido de imediato à CEF. Apesar de a diretoria da Caixa ter insistido na necessidade do documento original, Dias lembrou ser possível que se consiga apenas uma cópia bem legível: "Parece que o extrato foi remetido por fax para a revista."

Durante a reunião com os senadores, Mattoso informou que a comissão instaurada internamente para apurar o episódio terá 15 dias para concluir seu trabalho. O prazo foi considerado longo demais pelos parlamentares - já que a violação da conta se deu apenas dois dias depois de o caseiro, em entrevista ao Estado, desmentir o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, ao afirmar tê-lo visto "10 ou 20 vezes" na mansão alugada em Brasília por integrantes da chamada República de Ribeirão Preto.

Ao ser informado do prazo pedido pela CEF, o presidente da CPI, senador Efraim Moraes (PFL-PB), chegou a rir de descrédito. Dias, por sua vez, lembrou que o responsável pela violação foi muito ágil em propagar a informação, mas disse que a Caixa alegou a necessidade de cumprir todo um rito de natureza jurídica. "Há lentidão no procedimento", disse o tucano, para quem o banco já poderia ter enviado alguém à revista para pedir o documento.

Depois da visita dos senadores à sede da Caixa, uma onda de especulações sobre o nome do responsável pela violação tomou conta do Congresso. Dois ocupantes de cargos de confiança na CEF chegaram a ser divulgados pos parlamentares e o próprio banco teve de contestar os boatos apresentando explicações.

O primeiro nome apontado como envolvido na irregularidade foi o do chefe de gabinete da presidência da Caixa, Luiz Felipe Torelli. De acordo com o banco, ele que não trabalhou no dia da violação nem no dia seguinte porque se submeteu a uma cirurgia nos rins. O segundo nome foi o da vice-presidente de Tecnologia, Clarice Copetti, que também estava fora da instituição participando, segundo a CEF, de uma reunião do Tesouro Federal.